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Escala de Costa na Hungria: partidos pedem esclarecimentos ao primeiro-ministro

Quando seguia para a Cimeira da Comunidade Política Europeia, na Moldávia, António Costa fez uma escala em Budapeste e foi ver um jogo de futebol. A paragem não fazia parte da agenda do primeiro-ministro. Os partidos de oposição lançam críticas a Costa e pedem esclarecimentos.

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António Costa fez uma paragem em Budapeste, no dia 31 de maio, para ver um jogo de futebol - um evento que não estava na agenda do primeiro-ministro. Segundo o Observador, a viagem foi feita a bordo do Falcon 50, da Força Aérea Portuguesa. Os partidos de oposição pedem esclarecimentos a António Costa.

Paulo Rangel exige explicações ao primeiro-ministro sobre o uso de meios públicos para fins privados. O eurodeputado do PSD acusa o Governo de falhar todos os esclarecimentos e de fugir às responsabilidades.

“O que nós vemos é que o Governo de António Costa não consegue esclarecer nada”, afirma Paulo Rangel, destacando “tentativas sistemáticas de fugir às responsabilidades”.

O vice-presidente do PSD Paulo Rangel
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Em matérias de Estado que o eurodeputado considera “graves”, Rangel afirma haver “um padrão de comportamento do Governo de António Costa, do próprio primeiro-ministro e das pessoas que lhe são mais próximas”.

“Não se põe isto na agenda, o primeiro-ministro vai haver um jogo, que, sinceramente, não tem nenhuma relevância para Portugal, portanto é, com certeza, uma visita privada.”

Para o social-democrata, “isso não pode ser feito com o meio público e, portanto, é preciso um esclarecimento do primeiro-ministro”.

“O primeiro-ministro tem de esclarecer o que foi fazer a Budapeste”, remata.

Também Miguel Poiares Maduro criticou a ida António Costa a Budapeste. O ex-ministro do Governo de Passos Coelho diz que há uma finalidade privada no uso do Falcon. Afirma ainda que, num Estado sério, um primeiro-ministro usar um avião do Estado para um evento fora da agenda pública significaria o fim do percurso político.

Imagino que esta amizade com Orbán serve para afinar a conspiração internacional de extrema direita contra o PS… Mas há algo ainda mais grave. Num Estado sério um primeiro-ministro usar um avião do Estado para um evento fora da sua agenda pública era o fim do percurso político desse primeiro-ministro”, escreveu no Twitter.

Numa outra publicação, Poiares Maduro afirma que, por estar fora da agenda pública, a escala em Budapeste é um evento privado. Critica, por isso, a utilização do “Falcon para uma finalidade privada”.

“O primeiro-ministro podia ter decidido que era relevante para as suas funções ir a Budapeste ver o jogo e estar com Orbán ou Mourinho. Eu criticaria duramente essa avaliação, mas era isso. Mas não foi isso: ao ficar fora da agenda pública há um uso do Falcon para uma finalidade privada.”

IL diz que o Governo não cumpre o código de conduta

Também a Iniciativa Liberal (IL) exige "esclarecimentos urgentes" ao Governo e ao primeiro-ministro. O partido liberal lembra que este não é a primeira vez que o Executivo não cumpre com o código de conduta.

“Acho que se impõem esclarecimentos urgentes, nomeadamente porque estamos aqui a falar também do dinheiro dos contribuintes”, afirma Mariana Leitão, chefe de gabinete e membro do Conselho Nacional da IL.

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Mariana Leitão sublinha que a visita à Hungria “não consta da agenda oficial”, sendo que foram utilizados “recursos do Estado para esse efeito”.

Para a IL, o Governo não está a cumprir o “código de conduta” pelo qual se deveria reger.

“Há um código de conduta pelo qual o Governo se deve reger, em que é o próprio Governo o primeiro a, tudo aparenta, incumprir com esse código de conduta e, portanto, sim, isto é mais um caso em que há prejuízo para os cidadãos portugueses.”

Bloco diz que situação é “lamentável”, mas há “coisas mais importantes para discutir”

Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, diz que é lamentável o primeiro-ministro ter usado recursos de uma viagem oficial do Estado para ir ver um jogo de futebol. No entanto, considera que o país tem coisas mais importantes para debater.

“Acho lamentável que o primeiro-ministro tenha decidido parar uma viagem oficial para ir ver o futebol, tenha usado os recursos de uma viagem oficial do Estado para fazer essa paragem. Acho ainda mais lamentável que tenha visto este jogo de futebol ao lado de um líder autoritário de extrema-direita de um país como a Hungria”, disse Mariana Mortágua.

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A coordenadora do Bloco de Esquerda sublinha, contudo, que “o país continua a ter coisas mais importantes para discutir”.

Chega diz que António Costa pode ter cometido uma ilegalidade

André Ventura vai mais longe nas críticas à atuação de António Costa. O líder do Chega pede “fiscalização” ao acontecimento e avança que o primeiro-ministro pode ter cometido "uma ilegalidade".

“É preciso apurar se o avião, que é destinado para viagens oficiais, podia ser utilizado para algo que não estava na agenda pública”, diz André Ventura.

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O líder do Chega sublinha que “o primeiro-ministro não é dono dos equipamentos do Estado, que são pagos pelos contribuintes” e pede uma fiscalização rápida ao que se passou.

“Podemos inclusivamente estar perante uma ilegalidade”, sublinha.

Também o deputado Pedro Frazão lembrou, no Twitter, a vontade de António Costa "ir para a Europa". Disse ainda que “os primeiros-ministros socialistas não chegarão para a eleição” e que António Costa precisa do apoio de outros lideres que não sejam do Partido Popular Europeu (PPE).

"Toda a gente sabe que ⁦António Costa⁩ quer ir para a Europa. Para tal, os primeiros-ministros socialistas não chegarão para a eleição, e Costa precisará do suporte primeiros-ministros que não sejam do PPE. O Orbán foi expulso do PPE e na bola fazem-se amigos", escreveu o deputado do Chega.

PCP diz que campanha de Costa para a Europa “é o que menos preocupa os portugueses”

O secretário-geral do PCP exige que o primeiro-ministro esclareça a viagem no Falcon. Paulo Raimundo considera que a possível campanha de António Costa ao Conselho Europeu não é o que mais preocupa os portugueses.

“Não faço comentários sobre isso. Sabe porquê? Essa campanha eventualmente de estar a andar ou não estar a andar é aquilo que menos preocupa os portugueses. E até diria assim: os portugueses e os povos da Europa”, disse o secretário-geral do PCP aos jornalistas.

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Para Paulo Raimundo, o que “preocupa as pessoas” são “as condições de vida, o aumento dos preços, a brutal injustiça na distribuição da riqueza e a paz”.

No entanto, o responsável comunista reconhece que a situação “não é normal” e que tem “de ser esclarecida pelo primeiro ministro”.

“Naturalmente não é uma questão normal, mas todos os problemas do país fossem esses.”