O bastonário da Ordem dos Médicos e o presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia estiveram esta quarta-feira no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para avaliar a qualidade e a segurança do serviço. No Parlamento, foi ouvido o ex-diretor clínico recentemente demitido que disse aos deputados que haverá razões políticas para o seu afastamento.
Ouvido pela Comissão Parlamentar da Saúde, a pedido do Chega, Diogo Ayres de Campos, aproveitou para defender o trabalho que fez enquanto diretor clínico e da equipa do serviço de ginecologia e obstetrícia. O médico obstetra garantiu que não encontra motivos para ter sido afastado do cargo.
O Centro Hospitalar Lisboa Norte justificou a demissão dos dois diretores por terem questionado o projeto de reestruturação do serviço, que passa também pelas obras da nova maternidade.
Hospital defende que é preciso fechar o bloco de partos
O Hospital defende que é preciso fechar o bloco de partos para fazer as obras, o que obrigará quem trabalha neste serviço a deslocar-se para o São Francisco Xavier durante um ano. O médico não concorda com esta decisão e disse que o bloco de partos deve manter-se aberto durante a construção da nova infraestrutura.
O especialista afirmou que há uma perda de 25% na capacidade de resposta, o que pode levar à sobrelotação da maternidade do São Francisco Xavier se a do Santa Maria fechar. O braço de ferro entre o serviço de obstetrícia e a administração mantém-se e há consequências.
"Muitas pessoas manifestaram a sua vontade, se não houver uma reversão, de pedir a rescisão de contrato e encontrar outros locais do SNS e privados onde continuem as suas funções", atirou o médico.
Bastonário e presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia visitaram hospital
A Ordem dos Médicos pediu informações ao Hospital de Santa Maria para realizar um relatório detalhado sobre a situação assistencial no serviço de ginecologia e obstetrícia, disse o bastonário após uma "visita técnica" à unidade."
"Nós pedimos um conjunto de documentos ao hospital que nos vão ser enviados e a partir daí o colégio de Ginecologia e Obstetrícia [Notes:da OM] irá elaborar um relatório detalhado sobre a situação existencial do hospital, irá remetê-lo ao bastonário e depois eu irei desenvolver as diligências adequadas consoante as conclusões", afirmou Carlos Cortes.
O bastonário lembrou, no entanto, que "há dificuldades na grande maioria dos hospitais, para não dizer em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde", e sublinhou que o Hospital de Santa Maria "obviamente, é um foco de preocupação da Ordem dos Médicos".
João Bernardes revelou ter encontrado dificuldades no serviço de obstetrícia
Junto de Carlos Cortes estava o presidente do colégio de ginecologia, João Bernardes, que adiantou ter encontrado dificuldades no serviço de obstetrícia.
"Toda a gente está a fazer um esforço para resolver as dificuldades que temos, as dificuldades a nível obstétrico, não só deste hospital. São dificuldades nacionais, mais na região sul, em Lisboa e Vale do Tejo", salientou.
João Bernardes observou que o importante é "que se continue a trabalhar muito na questão de motivar os médicos para ficarem no SNS".
"Algumas unidades estão a viver dificuldades específicas e quando isso acontece o nosso papel é ajudar a encontrar soluções, mas também assegurar que a segurança clínica está garantida e a formação dos internos está garantida", realçou.
"Neste momento, estamos todos a trabalhar para isso e viemos aqui recolher dados, pedir dados para elaborar um relatório", acrescentou. O bastonário acrescentou ainda que será marcada uma nova reunião no Hospital de Santa Maria para avaliar as condições de formação na obstetrícia.