A estratégia do Governo é clara: num Serviço Nacional de Saúde que depende das horas extra trabalhadas pelos médicos, o Ministério da Saúde acena com maiores aumentos para quem quiser trabalhar mais horas.
Por exemplo, para os médicos especialistas em início de carreira que pretendam aderir ao novo regime de dedicação plena, com um horário de trabalho de 35 horas mais 5, o Governo propõe um aumento de 5 euros e 29 cêntimos por hora para o próximo ano, valor que deveria crescer de forma progressiva até 2026, altura em que a hora passaria a ser paga a 22,69 euros, mais 6 euros e 17 cêntimos.
Estes aumentos por hora, propostos pelo Governo, são mais baixos para quem decidir aderir aos regime das 35 horas semanais, em vez das atuais 40.
Agora, um especialista, na primeira posição remuneratória ganha os mesmo 16.52 euros por hora. Em 2024, passaria a receber 19,94 euros por hora, e em 2026 ganharia 20,75 euros. Ou seja, em três anos, terá um aumento de 4,23 euros/hora.
Quem aderir ao regime das 35 horas semanais poderá também fazer cair o descanso compensatório, o direito dos médicos a gozarem quatro horas de descanso pago depois de um turno à noite nas urgências.
A vontade do Governo tem merecido algumas críticas por parte de alguns médicos que consideram que a luta deveria centrar-se no aumento salarial, considerando que a redução do horário de trabalho está a levar a uma perda de força negocial com o Governo.
No jogo do dá e tira das negociações, o Governo oferece outras medidas que podem aumentar consideravelmente o ordenado. No entanto, mais uma vez, apenas para os que estejam dispostos a fazer urgências e noites.
Os médicos, que façam serviço de urgência em regime completo, poderão ganhar 500 euros mensais e dois a três dias de férias para os médicos que, podendo pedir dispensa, decidam continuar a fazer urgências e serviço noturno.
A próxima reunião entre médicos e Governo estava marcada para esta sexta-feira, mas a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) pediu que fosse adiada para o próximo sábado.