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Operação Influencer: António Costa era o "Deus" usado para pressionar autarquia de Sines

De forma a que a autarquia desse garantias à empresa Start Campus - que já teria feito promessas aos seus clientes - administradores usavam a figura e influência de António Costa para que o projeto fosse aprovado.

Primeiro-ministro, António Costa
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No centro da investigação da Operação Influencer está a instalação do mega centro de dados em Sines. Nas escutas telefónicas, os arguidos usavam o nome do primeiro-ministro para pressionar a autarquia local a acelerar o projeto multimilionário. Referiam-se a António Costa como Deus.

Numa escuta telefónica, a 26 de maio deste ano - poucas horas antes de nova reunião com o presidente da Câmara de Sines - Afonso Salema, administrador da Start Campus, criticava a falta do empurrão a autarquia para viabilizar o maior investimento em Portugal desde a Autoeuropa

Preocupado com os compromissos assumidos com os clientes e o desastre que o atraso da obra provocava, revelava que ia pôr o “medo de Deus” em cima de Nuno Mascarenhas, referindo-se alegadamente aos poderes de António Costa enquanto primeiro-ministro.

Justificava, então, Afonso Salema que a atitude do autarca de Sines estaria a prejudicar os interesses da empresa e antecipava a narrativa que iria usar na reunião à qual também terá marcado presença Diogo Lacerda Machado, o melhor amigo de António Costa.

Salema prometia um puxão de orelhas ao autarca e dizia mesmo que a Câmara corria o risco de perder os poderes do urbanismo para outra entidade.

Queixava-se, também de uma arquiteta, afeta ao Partido Comunista, que garantia ser uma pessoa muito complicada e não queria trabalhar. Dizia que era temida na Câmara e estaria a travar todo o projeto, ainda que a respetiva legalidade levantasse sérias dúvidas na autarquia e junto das entidades ambientais.

Nessa escuta telefónica, Salema assegurava mesmo que na reunião iria falar em nome de duas pessoas, o próprio António Costa e o Vitor Escária, o chefe de gabinete, entretanto detido e já exonerado.

De acordo com a investigação, as alegadas pressões sobre Nuno Mascarenhas remontam ao início do projeto e intensificaram-se desde o ano passado.

Lacerda Machado, Vítor Escária e dois administradores da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, terão usado a pressão como principal arma junto do autarca de Sines e outras entidades para acelerar de forma favorável todos os procedimentos administrativos - o que veio a suceder.

O Ministério Público diz ter provas de alegadas contrapartidas patrimoniais pagas pela Start Campus a Diogo Lacerda Machado. Seis mil e 500 euros líquidos por mês para pressionar a autarquia local e acelerar o projeto multimilionário.

Nuno Mascarenhas também terá sido beneficiado uma das alegadas contrapartidas. seria a promessa do apoio do Partido Socialista, nas próximas eleições.