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Na hora do adeus, Costa evoca "inquebrantável otimismo" de Mário Soares

O ainda primeiro-ministro lembrou a viagem de comboio de Soares, de Paris até à estação de Santa Apolónia, poucos dias após o 25 de Abril. Uma viagem que considerou essencial para tornar o PS um partido com forte inserção popular.

Na hora do adeus, Costa evoca "inquebrantável otimismo" de Mário Soares
ESTELA SILVA / LUSA

O primeiro-ministro evocou esta quinta-feira, perante o Presidente da República, "o inquebrantável otimismo" e a firmeza de princípios de Mário Soares, que lhe permitiram sempre defender a autonomia estratégia do PS e apoiar a formação da "Geringonça".

Esta posição foi defendida por António Costa, que disse estar a falar enquanto secretário-geral do PS, na sessão de apresentação de uma edição revista e ampliada do livro "Portugal Amordaçado - Depoimento sobre os anos do fascismo", de Mário Soares, no dia em que o antigo Presidente da República completaria 99 anos de idade.

Esta sessão antecede nalgumas horas a formalização da demissão do Governo, que ficará limitado a atos de gestão, decreto que o Presidente da República indicou que iria assinar esta quinta-feira à noite.

Com Marcelo Rebelo de Sousa sentado na primeira fila da plateia do auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, António Costa recordou as circunstâncias em que Mário Soares, no exílio, escreveu o "Portugal Amordaçado", editado em França em 1972, dois anos antes do fim do regime do Estado Novo em Portugal.

"Mário Soares acreditava então que a queda do regime estava iminente. Nessa altura, o inquebrantável otimismo de Mário Soares gerava menos irritação", comentou o ainda líder socialista com o chefe de Estado a ouvi-lo e provocando imediatamente risos na plateia.

António Costa lembrou a viagem de comboio de Mário Soares, de Paris até à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, poucos dias após o 25 de Abril. Uma viagem que considerou essencial para tornar o PS um partido com forte inserção popular.

O atual secretário-geral do PS salientou, também, a "firmeza de princípios" do antigo Presidente da República, característica que, na sua perspetiva, poderá explicar o facto de em Portugal, ao contrário do que aconteceu na Rússia, "os mencheviques terem vencido na rua os bolcheviques".

Essa sólida identidade do primeiro líder do PS, ainda de acordo com o primeiro-ministro, permitiram-lhe sempre uma ampla flexibilidade tática, sem nunca colocar em causa a autonomia estratégica do seu partido.

Neste ponto, lembrou que Mário Soares fez governos com o CDS e com o PSD e que os seus adversários o acusavam frequentemente de ser "mestre na navegação à bolina".

"Essa navegação à bolina não era incoerência. Mário Soares tinha a certeza que conseguia tornear os obstáculos sem nunca perder o seu rumo", sustentou António Costa, antes de lembrar que o antigo chefe de Estado, em 2015, apoiou a formação da "Geringonça".

O ainda líder socialista deixou um recado para o interior do seu partido.

"Alguns herdeiros putativos de Mário Soares dizem que a Geringonça foi uma traição a Mário Soares. Acontece, porém, que ele era vivo e foi um dos seus principais apoiantes", declarou, recebendo palmas.