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Sócrates critica silêncio do PS em relação às escutas da operação Influencer

Num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no Diário de Notícias, o antigo primeiro-ministro relembra que um ministro esteve sob escuta durante quatro anos e que ninguém protestou. Sócrates refere-se a João Galamba, apesar de nunca mencionar o nome do ex-governante.

Sócrates critica silêncio do PS em relação às escutas da operação Influencer

O antigo primeiro-ministro José Sócrates fala, num artigo de opinião que assina esta segunda-feira no Diário de Notícias, em "violência estatal", algo que diz ser "inconcebível em democracia".

José Sócrates critica também os dois principais candidatos à liderança do Partido Socialista (PS), que diz serem "amigos do ministro", mas que ignoraram o assunto.

“Um ministro esteve sob escuta das autoridades durante quatro anos. Quatro anos. A violência estatal é completamente obscena, não apenas no sentido de alguma coisa suja e indecente, mas também no sentido de ob-scaena, algo fora de cena, algo de inconcebível em democracia. Mas ninguém disse nada. Ninguém criticou”, lê-se no artigo intitulado “Fora de Cena”.

Entretanto, no Partido Socialista decorre uma campanha interna para disputa da liderança com dois candidatos que aparecem todos os dias na televisão. Foram colegas do ministro. São amigos do ministro. Não obstante, nenhum deles se sentiu obrigado a falar do assunto.

“Os deveres de companheirismo parece que já não obrigam ninguém naquele partido. Nada de pessoal, trata-se de evitar o incómodo para o partido - é só política, ou o que pensam que a política é. E, no entanto, antes não era assim. A interessante interrogação política que fica no espírito é: como foi possível, em tão pouco tempo, mudar a cultura política de um partido?”.

José Luís Carneiro é o maior alvo das críticas. É acusado de ter uma "sensibilidade política mais próxima do prestígio das instituições que dos direitos individuais".

"(…) fiquei a saber que ficou "profundamente desagradado" com um cartoon sobre o racismo policial. Todavia, igual indignação não afligiu o seu espírito quando foi informado de que o seu antigo colega foi escutado durante quatro anos pelas autoridades penais. Mas o ministro é moderado, tão moderado que a sua sensibilidade política estará sempre mais próxima do prestígio das instituições que dos direitos individuais. Entre a autoridade das organizações estatais e a liberdade individual, os novos políticos, cheios de "sentido de Estado", conferem primazia à primeira e desprezo à segunda. É triste, bem sei".