Crise Política

Sócrates considera que processo judicial retirou "ilegitimamente a maioria absoluta" ao PS

Num artigo de opinião no Diário de Notícias, o antigo primeiro-ministro critica os socialistas por não discutirem alegados abusos do Ministério Público no âmbito da Operação Influencer.

Sócrates considera que processo judicial retirou "ilegitimamente a maioria absoluta" ao PS

José Sócrates critica o PS por não querer discutir o processo judicial que levou à demissão do primeiro-ministro e que vai conduzir o país a eleições antecipadas.

Num artigo de opinião intitulado “Nada como um dia depois do outro”, publicado no Diário de Notícias, José Sócrates refere que foi a “ação do Ministério Público” a derrubar o Governo, a acabar com a maioria absoluta e a dissolver a Assembleia da República.

Apesar disso, o antigo chefe de Governo entende que o Partido Socialista decidiu que “a luta é contra a direita, não contra o sistema judiciário”.

Suspeitas "não justificam a violência sobre as pessoas”

Afirma que o que está em causa na investigação do Processo Influencer “são os motivos para prender, para fazer buscas e para tornar públicas suspeitas que, podendo fundamentar a decisão de investigar, não justificam a violência sobre as pessoas”.

Acrescenta que quando o Ministério Público decide “prender, fazer buscas em casas particulares e tornar pública uma investigação” deve ter em sua posse provas suficientes, algo que, neste caso, considera não se verificar.

“Todos sabemos que esta investigação vai durar anos, que os suspeitos vão pedir a aceleração processual, que os prazos de inquérito não vão ser cumpridos e que os procuradores manterão os suspeitos devidamente presos na prisão da opinião pública durante o tempo necessário a que outro tempo político floresça”, escreve.

O ex-primeiro-ministro não fica por aqui e acusa os socialistas de acharem que não podem passar os próximos quatro meses a discutir o processo judicial que, segundo o próprio, lhes retirou “ilegitimamente a maioria absoluta no Parlamento e o direito a governar”.

Processo levou à detenção cinco pessoas “por motivos fúteis”

José Sócrates lastima ainda que este processo tenha detido cinco pessoas “por motivos fúteis” e, consequentemente, “arruinado a sua reputação pública”.

Constata que neste momento o PS não tem tempo para “discutir a Constituição ou as garantias constitucionais”.

"Os socialistas não têm tempo para discutir a liberdade. A armadilha mental da direita resulta em pleno - criticar os abusos do Ministério Público é "atacar a Justiça", dizem eles. Quanto aos socialistas, não querem perder tempo, Nem quatro meses, nem quatro dias, nem quatro horas. Alguém disse que "todos os que se calam são dispépticos". Sim, este silêncio faz mal ao estômago", aponta.

Por fim, diz que o Ministério Público “presta contas a Deus, não aos homens, que se devem limitar a baixar a cabeça e expressar a sua confiança na justiça".

"Daqui a quatro meses haverá novo governo, haverá novos escândalos e haverá novas oportunidades para dizer que confiamos na Justiça. Nada de novo debaixo do sol - apenas a Justiça a funcionar", remata.