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Análise

"O PSD está demasiado confiante que o poder lhe vai cair no colo"

Ricardo Costa considera que o PSD não está a calcular bem o risco nestas eleições, já Sebastião Bugalho pensa que Luís Montenegro está a criar "bons momentos políticos".

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Ricardo Costa, diretor de Informação, e Sebastião Bugalho, comentador SIC, analisam a atualidade política neste fecho do ano de 2023: a pré-campanha de Luís Montenegro, a postura de Pedro Nuno Santos com o aproximar das eleições e a morte da ex-deputada do PCP Odete Santos.

De acordo com Sebastião Bugalho, a pré-campanha de Luís Montenegro está a ser bem sucedida, com alguns momentos chaves que lhe têm dado força.

"As sondagens não dão esse sinal, mas do ponto de vista dos momentos políticos ele está a revelar uma capacidade para os criar, no congresso, na coligação com o CDS... as sondagens a partir de janeiro poderão ser diferentes, pode ser que os eleitores mudem de opinião e de fidelidade com António Costa mais discreto. Luís Montenegro cria momento político, mas não cria momento eleitoral. Os episódios acontecem, o que mostra alguma perspicácia política, como o congresso, a coligação, correram-lhe bem", analisa o comentador SIC.

Já Ricardo Costa não analisa os acontecimentos políticos da mesma forma, tendo em conta que lhe dá a impressão que o Partido Social Democrata está à espera que o natural ciclo do PS a governar termine e que isso dê automaticamente espaço para o PSD governar.

“Não acho que esteja a correr bem. O problema não são os momentos, mas o que se faz entre os momentos, e a política não tem de ser contínua, mas não podem ser momentos aqui e acolá. Acho que estão a arriscar demais no momento de partida. O PSD pode estar a cometer um erro de perceção. Como o primeiro semestre do Governo deste ano foi caótico, com Alexandra Reis e caso Galamba e o o PS caiu muito nas sondagens, acho que há um cálculo com risco, pode estar bastante errado”, acautela Ricardo Costa.

Da mesma forma, explica que o que levou o PS à maioria absoluta não foi apenas ter conquistado boa parte do centro, foi também os partidos de esquerda terem tido muito menos expressão, mas também Rui Rio ter confiado que o ciclo natural do PS havia de acabar.

"Rui Rio tinha teoria que o ciclo natural do Partido Socialista havia de acabar e que o poder regressaria ao PSD. Ora, isto não é uma lei da física e o PSD está a confiar demasiado na alternância e que o poder vai cair no colo. Eu acho que se tem de dar um bocadinho mais ao pedal, do ponto de vista da ação, não acho que a coligação foi um momento particularmente feliz", conclui Ricardo Costa.

Pedro Nuno, o “fazedor”

A respeito de Pedro Nuno Santos, que deu uma entrevista exclusiva à SIC esta noite, Ricardo Costa considera que o recém-eleito secretário-geral do PS está a mostrar que consegue agir.

“A questão principal dele é para mostrar que tem capacidade de decisão, foi ministro dessa pasta, cometeu um erro e foi desautorizado, mas está a tentar mostrar que é um fazedor”, diz.

Para Sebastião Bugalho, Pedro Nuno Santos está a ser o “continuador da linha de António Costa”, sendo que já o fez nas eleições internas.

“Percebeu que não fazia sentido hostilizar o Costismo, reconhece que apesar do que se passou que António Costa tem uma relação forte com os portugueses e militantes base do PS. Vemos um Pedro Nunismo muito discreto, António Costa era mais disruptivo”, comenta.

Odete Santos

A ex-deputada e dirigente do PCP morreu esta quarta-feira, aos 82 anos e, para Ricardo Costa, era uma figura que trazia ao debate do Parlamento algo que, hoje em dia, está em falta.

“Foi uma grande deputada e que tinha uma importância que hoje em dia pouco se dá no Parlamento. A Odete Santos tinha um lado cénico, teatral de retórica que, acima de ideias, dava uma cor e uma força ao Parlamento. Ás vezes a ideia que o Parlamento só deve ter tecnocratas é um erro, a política também precisa de deputados com capacidade discursiva, que saibam fazer bons debates, ter sentido de humor e ataques mordazes e mortais, Odete Santos tinha essa capacidade durante os 27 anos que esteve no Parlamento”, termina Ricardo Costa.