Os diretores demissionários de alguns títulos da Global Media Group (GMG) revelaram surpresa aos deputados pela inversão das metas que lhes foram propostas aquando das contratações para os cargos. Ao invés de investimento depararam-se com ordem para despedir.
“O estado do grupo neste momento é preocupante, estão em causa até 200 postos de trabalho. (…) Não é segredo para ninguém foi público que iriam ser feitos investimentos na global, na TSF, estranhamente a 14 de novembro, seis semanas apenas da minha tomada de posse houve uma inversão da estratégia”, disse Rosália Amorim, diretora demissionária da TSF.
Esvaziar os títulos de mão de obra e massa cinzenta põe em risco a continuidade e a qualidade da informação prestada ao país, alegam os responsáveis por estes órgãos de comunicação social.
“Já fomos 33 nesta equipa apostámos sempre num trabalho sério, responsável, digno, acontece que chegámos a uma situação em que temos apenas 11 jornalistas na redação”, destacou Bruno Mateus, diretor demissionário do Dinheiro Vivo.
"Um jornal com total solidez operacional e financeira, parece-me particularmente inédita a situação do JN de se ver confrontado com um conjunto de medidas que na prática representam a sua destruição enquanto o jornal que atualmente é", acrescentou Inês Cardoso, diretora demissionária do JN.
"São menos de 50 pessoas que fazem o nosso jornal é impossível pedir mais esforço a pessoas que trabalham todos os dias mais de 10 horas", alertou Vítor Santos, diretora demissionário do jornal O Jogo.
Sem imprensa livre, a democracia é ameaçada, sublinharam os deputados na comissão parlamentar de cultura que pedem menos opacidade neste processo.
José Paulo Fafe, da comissão executiva do Global Media, anunciou no início de dezembro que as rescisões seriam para evitar a falência do grupo, mas esta quarta-feira escusou-se a explicar no Parlamento as linhas com que se cose este negócio.
Salários e subsídio de natal por receber
No passado dia 6 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar "a mais do que previsível falência do grupo".
Entretanto, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) garantiu que não vai hesitar em tomar novas diligências se subsistirem dúvidas sobre a titularidade do capital do fundo que detém a Global Media, a quem solicitou informações adicionais.
O programa de rescisões no GMG, que detém a TSF, Diário de Notícias (DN) e Jornal de Notícias (JN), entre outros, foi prolongado até 10 de janeiro.
Acionistas e comissão executiva têm trocado acusações e ameaças, enquanto há trabalhadores que estão sem receber o salário de dezembro e o subsídio de Natal e os prestadores de serviços sem os pagamentos que lhes são devidos.
Jornalistas de todo o país e sociedade civil já doaram mais de 15.600 euros e ajudaram 44 dos trabalhadores do GMG, segundo uma nota divulgada esta terça-feira pelos representantes dos trabalhadores Ana Luísa Magalhães, Augusto Correia, Ivete Carneiro e Rita Salcedas.