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Apesar dos ataques no Porto, imigrantes continuam a considerar Portugal o melhor país para se viver

Os ataques a imigrantes, no Porto, relançaram o debate sobre a vaga de imigração e as falhas na integração dos estrangeiros. O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária por haver suspeitas de crime de ódio e o clima de insegurança na baixa da cidade está a levantar muitas preocupações.

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Numa casa no Bonfim, no Porto, vivem 11 argelinos e um luso-venezuelano, que é o único que tem um quarto privado. O restante espaço, extremamente pequeno, é partilhado por 11 homens e pagam 250 euros por uma cama. Por lá dormiam quando, na madrugada do dia 3 de maio, foram agredidos com violência, por um grupo de homens encapuzados que invadiram a casa, munidos de paus e de uma suposta arma de fogo. Três moradores foram hospitalizados e continuam assustados, e por isso, não quiseram gravar para a câmara da SIC.

Alguns trabalham para empresas de entrega de comida, dois são pedreiros e um é barbeiro. Dias depois do episódio violento, receberam a visita de um representante da embaixada da Argélia.

Na madrugada das agressões no Bonfim, a PSP registou mais dois ataques na baixa da cidade contra imigrantes argelinos e marroquinos. O primeiro foi à uma da manhã no campo 24 de agosto. No final da noite, um homem foi detido em flagrante a usar um bastão extensível. Foi detido e ficou em prisão preventiva, indiciado pelos crimes de posse de arma proibida e ofensas à integridade física. Outros cinco homens foram identificados.

Por haver suspeitas de crime de ódio, o caso passou a ser investigado pela Polícia Judiciária. O Ministério Público já abriu três inquéritos.

As autoridades suspeitam ainda da ligação a um grupo de extrema-direita. Mas no Bonfim, há quem fale numa clima de insegurança associado a assaltos violentos cometidos por imigrantes de origem magrebina. Um deles terá envolvido uma mulher grávida. Há moradores que falam em ajuste de contas e outros assumem mesmo que já fizeram queixas na polícia, mas que nada adiantou.

"Eu entro em casa por volta das 17 horas e não saiu mais. Tenho medo", disse, à SIC, uma moradora.

A PSP recusou dar dados sobre a criminalidade na zona, sublinhando que a investigação já não está na alçada desta polícia. Mas de acordo com dados revelados pelo Público, no ano passado, as autoridades registaram menos crimes na cidade do que em 2019, uma diferença ainda maior se a comparação for com 2018.

Em sentido contrário tem andado a imigração. Em 2019, os residentes não nacionais no concelho do Porto eram cerca de 14.500, já em 2022, ultrapassavam os 23 mil, o que representa 9,7% dos habitantes do Porto.

Três dias depois das agressões, Rui Moreira condenou os ataques no Bonfim, que chamou de crimes de ódio e responsabilizou a Agência para as Integração, Migrações e Asilo, que veio substituir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

À porta da AIMA no Porto, as filas são frequentes e há quem espere meses para regularizar os documentos, mas não relatam queixas de insegurança ou discriminação.

Md Bilal, um proprietário de três lojas na baixa do Porto, garante que a cidade é segura. É natural do Bangladesh e veio para Portugal há 16 anos.

"Eu visitei mais de 20 países e o melhor é Portugal. É seguro, a vida, a comida, passear... à noite, no Porto e, em todo o lado, eu passeio com dinheiro, com mulher, com as filhas, é tudo seguro", relatou.

Horas depois dos ataques, dezenas de pessoas saíram à rua contra a legitimação da violência, seja ela qual for, e do ódio racial.