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Ana Jorge volta a deixar dúvidas sobre legalidade dos negócios da Santa Casa no Brasil

A provedora exonerada disse que a Santa Casa de Lisboa "a única coisa que fazia era dar dinheiro para o Brasil". Em determinado momento, a situação teve de ser entregue às autoridades judiciais, até porque há "envolvimentos com parceiros que podem não ser confiáveis".

Ana Jorge volta a deixar dúvidas sobre legalidade dos negócios da Santa Casa no Brasil
MIGUEL A. LOPES

A provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, voltou esta noite a deixar dúvidas sobre os negócios no Brasil, considerando mesmo que podiam envolver "parceiros não confiáveis".

Ana Jorge, no programa "Grande Entrevista" da RTP3, voltou a explicar os motivos que a levaram a cancelar os investimentos no projeto de expansão para o Brasil, e disse haver uma ata, de uma reunião de 2022, segundo a qual os então responsáveis admitiam que "os negócios no Brasil não eram nem nunca seriam rentáveis".

Nas palavras da responsável seria difícil o sucesso, numa área do país onde o jogo não é regulado, e uma esperança que houve em Brasília também não se concretizou, pelo que, disse, a melhor opção foi a Santa Casa retirar-se, negando no entanto que tenha saído de forma abrupta, até porque as empresas criadas estão a funcionar.

Ana Jorge disse que considerou que os custos de sair eram menores do que continuar, afirmou que a intenção do antigo provedor até podia ser boa, mas que o que encontrou foi uma "complicação", e que a Santa Casa de Lisboa "a única coisa que fazia era dar dinheiro para o Brasil".

Em determinado momento, referiu, a situação teve de ser entregue às autoridades judiciais, até porque há "envolvimentos com parceiros que podem não ser confiáveis".

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Na entrevista, Ana Jorge desvalorizou o investimento da anterior administração em imagens digitais (as chamadas NFT), de cerca de 500 mil euros, disse que é preciso dar nova vida aos jogos, e admitiu a preocupação com dependência de jogos (raspadinha).

Sobre o processo de exoneração pelo atual governo confessou-se surpreendida, porque na primeira reunião com a ministra da tutela disse que estava disponível para continuar e que esta lhe disse que confiava e até lhe perguntou quantos lugares vagos havia para colocar pessoas e se queria ficar com todos (da mesa).

Sobre declarações da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, de que os gestores se tinham aumentado a si próprios Ana Jorge negou, disse que pela lei tal não era possível e que os aumentos que existiram não dependeram dos gestores.

Ana Jorge disse também que não está a pensar processar o ministério pela situação, e não considerou que a sua saída seja um "saneamento político".

Ana Jorge acusa atual Governo de “profundo desconhecimento” sobre Santa Casa

A administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi exonerada a 29 de abril passado.

Esta situação levou na quarta-feira Ana Jorge a ser ouvida no Parlamento e esta quinta-feira é a vez da ministra Maria do Rosário Ramalho dar explicações aos deputados.

No Parlamento, Ana Jorge negou novamente as acusações que lhe foram dirigidas, e também à Mesa da Santa Casa, garantindo que as acusações revelam um “profundo desconhecimento” da tutela sobre a instituição.

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Durante o seu discurso, a ex-provedora sublinhou que sempre procurou “defender uma sociedade mais justa”, “pelo que não podia deixar de ficar indignada com as acusações por parte da Sr.ª ministra do Trabalho”.

“A mesa trabalhou arduamente para que em setembro de 2023 fossem pagos todos os salários, cumpridos os compromissos com fornecedores, para que não houvesse qualquer situação de incumprimento”, disse, sublinhando que, atualmente “a Santa Casa não tem praticamente nenhuma dívida”.

Com Lusa