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Crianças nascidas este século são da geração com a esperança média de vida mais alta de sempre

Mais de metade das crianças nascidas no século XXI em países desenvolvidos poderão ultrapassar os 100 anos de idade. Mas viver mais tempo levanta o desafio de fazer com esses anos de vida sejam anos saudáveis. Os especialistas lembram que a alimentação adequada é essencial e logo nos primeiros anos de vida.

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É o único em Portugal e tem apenas um outro exemplar na Península Ibérica, em Espanha. Falamos de um aparelho que permite obter dados discriminados sobre a massa gorda e magra nos bebés com o objetivo de estudar a eficiência de tratamentos em bebés com problemas nutricionais e metabólicos.

A alimentação dos bebés é um tema muitas vezes esquecido, mas que pode fazer toda a diferença na saúde a curto e longo prazo.

No Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, onde está disponível esta tecnologia, nascem agora os bebés que podem esperar viver até aos 100 anos. É a geração com a esperança média de vida mais alta de sempre.

A alimentação pode potenciar uma vida longa e saudável, mesmo antes do nascimento, onde a nutrição fetal tem um papel fundamental.

"Se o bebé a nível uterino sofreu fome, ele vai criar mecanismos que fazem sobreviver, hibernam digamos, aumentam a reserva de gordura, tentam recolher o máximo de glicose (...) e, após o nascimento, mantêm estes mecanismo, chama-se a programação que vai perdurar pela vida. Na adolescência, e até na idade adulta, estão predispostos a vir a ter diabetes e até obesidade. Podem ter dislipidemia e também pressão arterial. O chamado síndromo metabólico", diz Luís Pereira da Silva, neonatalogista.

A desnutrição está muitas vezes associada ao envelhecimento da placenta que é detetado durante a gravidez e mitigado com medicamentos.

No polo oposto, a sobrenutrição do feto também pode estar na origem deste tipo de problemas, mas com diferentes mecanismo por detrás e ocorre sobretudo em mães com diabetes.

Após o nascimento, entre especialistas parece não haver dúvidas. O leite materno é a melhor opção para a saúde a curto e longo prazo.

"O alimento mais fisiológico, mais orgânico, mais natural que pode ser dado a um bebé porque é produzido, exatamente, com esse fim. É giro ver que as caraterísticas do leite materno variam de mulher para mulher e são adaptadas aquele bebé às diferentes horas do dia e às diferentes fases de crescimento", explica Mariana Abecassis, nutricionista.

"Os que foram amamentados continuam a ter vantagem a longo prazo. Tem efeito protetor contra alergia, contra as doenças imunitárias, melhora o desenvolvimento cognitivo e impede que haja hipertensão arterial (...)", acrescenta Luís Pereira da Silva.

Passados dos desafios da amamentação, surgem outros diferentes que começam principalmente quando é introduzida a dita alimentação familiar.

"(...) Os hábitos de um pai e de uma mãe influenciam, de uma forma brutal, aquilo que vai ser a alimentação da criança", afirma Mariana Abecassis.

Em Portugal, têm-se estudados a alimentação infantil e os dados de vários estudos mostram um consumo exagerado de açúcares, carnes vermelhas e alimentos processados.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge apontem para uma taxa de mais de 30% de crianças com excesso de peso.

"Daí vem uma série de problemas que estão associadas ao excesso de peso e a obesidade como hipertensão, dislipidemias, ou seja colesterol elevado, diabetes, arteriosclerose, doença cardíaca, e até certos tipos de cancro", explica a nutricionista.

Familiares, escolas e até governos têm um papel fundamental na prevenção.

"Tem de haver uma luta continua, até numa forma de regular a publicidade, têm de haver um investimento ao nível dos infantários, com nutricionistas a orientar as dietas, literacia para os cuidadores em casa, seja os avós, as amas, ou os pais, naturalmente", diz o neonatalogista.

"Felizmente cada vez [mais] as escolas e os ministérios da saúde e da educação estão mais atentos a essa questão, nomeadamente manter o hábito da sopa. Ir alternando entre pratos de carne e pratos de peixe. Ter sempre um legume ou hortícola no prato", acrescenta a nutricionista.

A alimentação, a integração social, as condições de vida e o desenvolvimento da medicina têm impacto na longevidade, nos primeiros anos de vida.

Numa geração que se estima que viva mais anos, os desafios estão agora em aumentar os anos de vida saudáveis.