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"Pode ter ido longe demais": Oposição critica Governo por novas tabelas do IRS

Até ao final do ano, todos os trabalhadores dependentes e pensionistas que pagam IRS vão descontar menos. Já foram publicadas as novas tabelas de retenção na fonte.

Pedro Nuno Santos
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O Governo tinha prometido mexer nas tabelas de retenção na fonte a partir de setembro, para que os portugueses sentissem no bolso, ainda em 2024, a redução do IRS aprovada no Parlamento a meio do ano.

Vai fazê-lo a dois tempos. Em setembro e outubro, vai compensar tudo o que foi descontado a mais desde janeiro. Em dois meses, o Executivo quer corrigir nove pagamentos - os primeiros oito meses do ano mais o subsídio de férias.

A maioria dos trabalhadores dependentes vai receber, por isso, muito mais do que é costume. No caso de quem ganha até 1.175 euros brutos, durante 2 meses o ordenado virá quase por inteiro, deixando mesmo de descontar IRS.

Também há ajustes nas pensões

Quem recebe até 1.202 euros fica isento em setembro e outubro. Pelo menos para os pensionistas da Segurança Social, o bónus só chega a partir de outubro, porque as pensões a pagar em setembro já foram processadas este mês.

Corrigido o que está para trás, em novembro entram em vigor as taxas que vão contar até ao final do ano e que refletem diretamente a descida do imposto aprovada. A partir daí, a poupança é mínima.

Segundo dados compilados pela consultora Ilya, um solteiro sem filhos que ganhe até 900 euros brutos por mês só poupa um euro em relação a Agosto. Oito, se ganhar até 1100 euros. Mesmo para salários mais altos, até aos 10 mil, as tabelas de novembro e dezembro não permitem uma poupança superior a 22 euros.

Uma pessoa casada e com um dependente mesmo que ganhe 10 mil euros por mês não vai poupar mais do que isso.

“Efetivamente, a alteração das tabelas que foi anunciada com grande pompa e circunstância, depois não se traduz, por mês, em grande coisa”, afirma o fiscalista Luís Leon.

“Governo preocupado com o curto prazo”

Os partidos da oposição também questionam o impacto e o timing da medida. O PCP ironiza, com Paulo Raimundo a afirmar que o Governo “tem uma equipa de propaganda extraordinária”. Já o líder do PS, Pedro Nuno Santos, diz que o Executivo de Luís Montenegro está preocupado “com o curto prazo”.

"Temos já fiscalistas a dizer que esta revisão pode ter ido longe mais. É mais um momento que mostra que temos um Governo preocupado com o curto prazo. Precisamos de trabalhar a pensar no futuro, e não no dia de amanhã e numas eventuais eleições", afirma o secretário-geral do Partido Socialista.

Com as alterações, os contribuintes passam a receber mais dinheiro na conta. Mas os contabilistas lembram que ao descontar menos durante o ano, no ano seguinte podem receber menos de reembolso, ou mesmo ter de pagar.