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Fuga de Vale de Judeus: “Quem faz a segurança da cadeia não pode conhecer os reclusos”

Hernâni Carvalho, da SIC, e Carlos Rato, da Associação de Apoio ao Recluso, analisam a fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus e ainda o que é necessário mudar no sistema prisional.

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Na antena da SIC Notícias, Carlos Rato, da Associação de Apoio ao Recluso, defende que os guardas prisionais que acompanham os reclusos não podem ser os mesmos que fazem a vigilância da cadeia, para evitar situações como a da fuga de Vale de Judeus.

“Quando se está há vários anos preso, é normal que se estabeleça relações de afetividade. Por isso, quem faz a segurança não pode conhecer os reclusos e até devia vigiar os próprios guardas dentro da cadeia”, afirma.

Hernâni Carvalho acrescenta que é preciso perceber que formação têm os guardas responsáveis pela videovigilância, quem é que os nomeia e também entender que capacidade pode ter um só ser humano para vigiar “quase 200 ecrãs”.

O “deixa andar” nos serviços prisionais

O jornalista aponta ainda críticas à direção dos serviços prisionais, que acusa de andar a “brincar” com “a nossa segurança”.

“Isto não começou ontem. Esta fuga só serve para mostrar o ‘nem rei nem roque’ que os serviços prisionais têm. Como é que Vale de Judeus - de alta segurança - não tem comando? O comissário doente, o chefe dos guardas de férias e o diretor não existe há mais de um ano”, lembra Hernâni Carvalho.

Carlos Rato lamenta que nos últimos anos não se tenham aplicado medidas para reformar o sistema prisional, que chegou a uma situação de “deixa andar”.

“António Costa quando se candidatou à liderança do PS apresentou um documento muito bonito com tudo o que é preciso mudar no sistema prisional. Um dia escrevi-lhe uma carta a perguntar o que podia fazer para o ajudar a pelo menos começar uma dessas medidas. Até hoje, os Governos de Costa aplicaram zero medidas. Os Governos esquecem o sistema penitenciário. Se não fosse este caso, não estaríamos a falar disto. É o deixa andar.”

A culpa é da juíza de execução de penas?

Sobre a transferência dos reclusos de Monsanto para Vale de Judeus, ambos apontam o dedo à juíza de execução de penas. Carlos Rato afirma que há um “problema gravíssimo” nesta área, já que “quem não consegue entrar em mais lado nenhum vai para execução de penas”.

Mas Hernâni Carvalho diz que “crucificar” esta juíza é só “crucificar metade”, já que não foi esta que ordenou que os reclusos ficassem na mesma ala ou nas mesmas celas.

“Os indivíduos são tão perigosos e em 500 celas só encontram aquelas para eles estarem juntos”, questiona o jornalista.

Carlos Rato acrescenta que, nas prisões, quando se juntam pessoas perigosas a reclusos que estão a cumprir pena apenas pela falta de pagamento de uma multa pode acabar por se gerar “situações destas”.

“Está tudo ao molho lá dentro”, concluiu.