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"Ligeiro é quem não vê a realidade": Montenegro responde a críticas de Pedro Nuno sobre violência doméstica

O chefe de Governo atribuiu os elevados números de casos de violência contra mulheres a uma subida das denúncias, e não a um aumento dos casos. A oposição critica o discurso baseado em “perceções” em vez de factos e fala em falta de respeito pelas vítimas.

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O primeiro-ministro acusou, esta terça-feira, o líder do PS de não ver a realidade sobre os casos de violência doméstica em Portugal. Luís Montenegro insiste que o aumento dos casos não é real e está relacionado com o número de queixas apresentadas.

“Nós temos de ter noção que esse aumento significa muito o resultado do trabalho, e não tanto o aumento da criminalidade em si”, insistiu o chefe de Governo.

"Se há quem pense que dizer isto é olhar com ligeireza para esta tipologia criminal, eu diria que ligeiro é aquele que não vê a realidade que tem diante dos seus olhos."

É a resposta de Luís Montenegro às críticas do PS e do Bloco de Esquerda, que o acusaram de insensibilidade, por afirmar que não há um aumento real da violência contra mulheres, mas mais crimes denunciados.

Só este ano, registaram-se 15 mil crimes de violência contra as mulheres. Houve 344 mulheres violadas e 15 mortas pelos companheiros.

As controversas palavras de Montenegro

"Não quero chocar ninguém”, começou por avisar, na segunda-feira, o primeiro-ministro. "As estatísticas dos últimos anos revelam um aumento do crime, mas, eu até tenho dúvidas de que signifique o aumento da criminalidade tipificada para a violência doméstica”, afirmou Luís Montenegro, numa conferência sobre combate à violência contra as mulheres, onde os olhares estavam postos no orador, descrente nos números.

"Eu não quero, repito, chocar ninguém. Mas tenho a consciência de que o aumento que assistimos não significa um aumento real”, continuou o primeiro-ministro, sublinhando a crença de que o país “já foi muito pior desse ponto de vista".

Luís Montenegro atribui o aumento de casos a mais denúncias e não a mais agressões.O líder do PS não tardou a responder, acusando o primeiro-ministro de falta de empatia.

"O cidadão Luís Montenegro tem o direito de achar coisas, mas a um primeiro-ministro exige-se menos ligeireza e mais respeito pelos factos", escreveu Pedro Nuno Santos, numa publicação feita na rede social X.

"A Polícia Judiciária registou 344 mulheres violadas entre janeiro e setembro. Este ano foram assassinadas 25 mulheres em Portugal. Afirmar, perante estes factos, que a realidade "já foi muito pior", é, no mínimo, uma enorme falta de sensibilidade, empatia e respeito pelas vítimas”, declarou o secretário-geral socialista.

Do Bloco de Esquerda também chegaram críticas. A coordenadora do partido, Mariana Mortágua, aconselhou Montenegro a ter "menos perceções e mais factos" e a deputada Joana Mortágua atirouque "quando se resume a segurança a 'perceções' sai asneira".

Uma contradição interna

A contradição parece vir de dentro do próprio Governo, que se apoiou nos dados da Polícia Judiciária para falar sobre este problema real.

"Em média, são participadas, diariamente às forças de segurança, cerca de 83 situações de violência doméstica. Esta é a realidade, pelo que temos de fazer mais e melhor”, defendeu a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.

O Governo que até cria planos para responder ao aumento dos casos, apesar da descrença do primeiro-ministro.

"Vamos instalar mais dois Gabinetes de Apoio à Vítima, um no DIAP do Porto e outro no DIAP do Seixal”, anunciou a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice.

Em 2023, a violência doméstica foi o crime com maior número de denúncias: 26 mil. Nos primeiros nove meses deste ano, há já registo de mais de 23 mil participações às autoridades.

É verdade que há mais vítimas a fazer denúncia às autoridades, mas não se pode deduzir que seja esse o único fator para justificar mais casos de violência doméstica.