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Mais de 300 jovens médicos desistem de fazer especialidade, rescindem contrato com o SNS e optam por ser tarefeiros

O Serviço Nacional de Saúde continua sem conseguir atrair os jovens médicos para as áreas onde fazem mais falta. Mais de 300 internos, que agora deveriam iniciar a especialização médica, decidiram rescindir o contrato com o SNS. Optam agora por ser tarefeiros, ou seja, continuam no serviço público, mas a serem pagos pelos privados.

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O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem tido dificuldades em atrair jovens médicos para as áreas onde mais se precisa. Mais de 300 médicos internos, que deveriam iniciar agora a especialização, decidiram rescindir contrato com o SNS.

A principal razão é que muitos não conseguiram vagas nas especialidades que queriam. Há quem opte por ser "tarefeiro", ou seja, continuar a trabalhar no serviço público, mas contratado por empresas privadas que prestam serviços ao SNS. A ministra da Saúde reconhece o problema e admite que é necessário criar novos incentivos para reverter esta situação.

Pedro, por exemplo, queria especializar-se em cirurgia pediátrica, anestesia ou urgências e emergências, uma especialidade que em breve deverá ser formalmente introduzida em Portugal. Já Luís e André sonham com a cirurgia plástica. São três exemplos de jovens médicos que, ao terminar o chamado "ano comum", deviam agora iniciar o internato para se tornarem especialistas no SNS. No entanto, todos decidiram sair.

Atualmente, os médicos contratados diretamente pelo SNS precisam de ter uma especialidade. No entanto, os tarefeiros não têm essa obrigatoriedade. Ocupam lacunas nos centros de saúde, onde faltam profissionais de medicina geral e familiar, e nos hospitais, onde há carência de médicos de medicina interna – justamente as especialidades com mais vagas disponíveis, mas menos procuradas nos concursos para internato.

Das 2.189 vagas abertas este ano, 625 eram para medicina geral e familiar, mas 168 não foram preenchidas. Para medicina interna, foram abertas 185 vagas, das quais 49 ficaram sem candidatos.

Pedro Cunha, que termina o ano comum no Hospital de São José em dezembro, já é professor convidado numa universidade de medicina. Em janeiro, poderá continuar a trabalhar no SNS, mas apenas como tarefeiro, contratado por empresas privadas. "Um médico internista acaba por se concentrar muito em burocracia e cuidados paliativos", disse.

Para André Pires, o problema não é apenas a falta de oportunidades. Diz que a nota obtida este ano não foi suficiente para a especialidade que queria, mas admite que procura qualidade de vida, algo que considera difícil de alcançar em Portugal. "A Suécia é agora um destino possível", diz.

O SNS enfrenta um dilema: médicos não faltam, mas as áreas mais carentes de profissionais permanecem pouco atraentes. O sistema paga altos valores a empresas privadas que contratam médicos sem especialização – formados pelo próprio SNS – enquanto a falta de incentivos eficazes impede uma solução sustentável para o problema.