José Pedro Aguiar-Branco considera que se está a criar um clima de confusão com as polémicas sobre a lei dos solos e as participações de políticos em empresas imobiliárias. O presidente da Assembleia da República defendeu que o atual ambiente está a afastar pessoas com mais qualidade da política e a degradá-la.
Em declarações, esta terça-feira, no Parlamento, Aguiar-Branco alertou para a diferença entre transparência e devassa da vida privada. Para o Presidente da Assembleia da República, muitos dos casos que têm vindo a público são “puramente um voyeurismo”.
“Há muitas situações, quando há uma eleição, quando há alguém que entra para o exercício de cargos políticos - ainda que não tenha absolutamente nenhuma situação de necessidade de escrutínio particular -em que vejo escarrapachado tudo aquilo que é o seu património, aquilo que é a sua situação de ponto de vista financeiro”, comentou.
José Pedro Aguiar-Branco refere que “mesmo quando não há situações que se encontrem no âmbito do regime das incompatibilidades, se gera uma atmosfera que confunde o trigo e o joio". "Desta forma, pessoas de bem não estão disponíveis para participar" na vida política, frisou.
Atrair só os "políticos de carreira"
O presidente da Assembleia da República alerta para o risco de Portugal ficar só com políticos sem interesse nenhum e sugeriu uma mudança de regras e mentalidades, por ocasião dos 50 anos das primeiras eleições livres.
"Quando estamos, por demagogia, inveja ou maledicência, demasiado preocupados com os interesses dos políticos, corremos o risco de só ficar com políticos sem interesse algum”, avisou.
"Corremos o risco de atrair para o serviço público apenas os que não têm percurso feito no privado, os políticos de carreira os que sempre fizeram política - e nada mais."
“Confunde-se tudo”, atirou ainda Aguiar-Branco, referindo-se à polémica com a recentemente aprovada lei dos solos e os alegados conflitos de interesses a envolver vários políticos e membros do governo. “Confunde-se propositadamente.”
Confrontado com o facto de o líder do Chega, André Ventura, o ter também apontado como um dos políticos que detém uma participação numa empresa imobiliária, José Pedro Aguiar-Branco reagiu: "Nem sequer valorizo isso, porque cai no campo da tal confusão, no campo em que se pretende confundir tudo".
Com Lusa