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"Sociedade doente": ataque a adeptos é "sintoma" de um problema maior

Três adeptos do Sporting incendiaram um carro com quatro adeptos do FC Porto. Ana Bispo Ramires, especialista em psicologia do desporto, diz que o caso reflete uma sociedade "cada vez mais doente", com "défices elevadíssimos de literacia emocional".

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Quatro adeptos do FC Porto ficaram esta terça-feira feridos, na sequência do arremesso de um engenho incendiário, quando a viatura em que seguiam foi atacada em Lisboa com um engenho incendiário. Foram detidos três adeptos do Sporting suspeitos do ataque. com idades entre os 22 e os 26 anos.

Ana Bispo Ramires, especialista em psicologia do desporto, liga este episódio a outros não relacionados ao desporto - o caso do ator agredido por um grupo de extrema-direita e o dos portugueses investigados por instigar massacres no Brasil - para concluir que a “sociedade está cada vez mais doente”.

“O desporto cumpre um papel muito importante, porque é como se fosse um laboratório humano onde podemos observar tudo o que o ser humano é capaz de forma extremada. [Este caso] é apenas um sintoma de uma sociedade com défices elevadíssimos de literacia emocional e no controlo dos impulsos.”

“Portugal tem das literacias emocionais mais baixas da Europa”

Ana Bispo Ramires diz que, embora seja “muito importante” que existam “medidas de coação e punição com ónus para os indivíduos”, o trabalho tem de começar o mais cedo possível, nas escolas.

“Portugal tem das literacias emocionais mais baixas da Europa”, frisa a psicóloga, que pede “decisão política” para que entre nos currículos escolares uma “disciplina que treine as competências emocionais” dos jovens.

A psicóloga cita a proibição das redes sociais para os jovens, medida que França e Austrália estão a preparar e outros países querem implementar - como uma medida “fundamental” para travar estes fenómenos de violência.

“A adição às redes sociais retira capacidade de estar com o outro e de desenvolver capacidades sociais”, refere Ana Bispo Ramires.

Para além das medidas de prevenção e coação, Ana Bispo Ramires defende o “acompanhamento psicológico para os agressores”.