António José Seguro, candidato à Presidência da República, esteve esta quarta-feira reunido com o Patriarca de Lisboa e abordou a questão das demolições no bairro do Talude, em Loures. Em declarações aos jornalistas, expressou que "há determinadas políticas que precisam de ser decididas com a cabeça, mas executadas com o coração".
Para o antigo secretário-geral do Partido Socialista (PS) é "inaceitável" que "em quase um terço dos concelhos, a média dos preços do arrendamento de uma casa é superior a 50% do salário ou dos rendimentos que as famílias têm". Nesse sentido, "neste momento o que é importante é soluções" porque "temos um problema de emergência sobretudo mas áreas metropolitanas".
Seguro aborda a crise de habitação no país e sublinha que "não podemos voltar atrás" depois de se terem erradicado as barracas há décadas.
Sobre a questão das barracas em específico, esta terça-feira, a arquiteta Helena Roseta, autora da Lei de Bases da Habitação, afirmou, em entrevista à SIC Notícias, que "o presidente [da Câmara de Loures] acha que está a erradicar o problema, mas está a alargá-lo". Isto porque "estas pessoas, como não têm para onde ir, vão voltar a construir barracas, ali ou noutro sítio qualquer", logo "o problema alastra-se, e, sobretudo, alastra-se o desespero”, concluiu.
Voltando ao candidato à Presidência da República, Seguro assumiu ainda a sua preocupação face ao caso de Loures porque se "há uma emergência, tem de haver soluções de emergência", tendo, nesse âmbito já apresentado uma proposta. Destaca ainda que a causa "de tudo isto" é o problema estrutural do país em ter "habitações a preços acessíveis".
"Todos nós precisamos de ter um teto para dormir e para viver com dignidade e, portanto, há determinadas políticas e decisões de natureza social que precisam de ser decididas com a cabeça, mas executadas com o coração", remata.
António José Seguro apela ainda ao Governo para que se reúna com autarcas para dar resposta ao problema.
"Abuso de poder": Helena Roseta disposta a levar o caso ao Ministério Público
Na entrevista já referida à autora da Lei de Bases da Habitação, Helena Roseta acusou a Câmara de Loures de "abuso de poder" e admite estar disposta a denúncia ao Ministério Público para que o caso seja investigado e as famílias afetadas tenham a devida proteção.
Segundo Helena Roseta, o que aconteceu neste bairro de Loures foi “um despejo administrativo”, prática que, segundo a arquiteta, a Câmara “não pode fazer” sem assegurar primeiro condições dignas para os habitantes.
“Eram habitações muito más, muito precárias, mas eram habitações. Não se pode pôr as pessoas na rua sem alternativas”, disse, classificando a ação como “inadmissível” e uma “violação grosseira da lei”.
Além disso, a ex-vereadora da Câmara de Lisboa acusou ainda o presidente da Câmara de Loures de se aproximar politicamente da extrema-direita. A ex-deputada manifestou também estranheza pelo silêncio do Partido Socialista (PS) sobre o caso.
Basílio Horta aponta ao Governo com acusações de falta de intervenção na crise da habitação e saúde
Também esta terça-feira, Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra e do Conselho Metropolitano de Lisboa, esteve em entrevista à SIC Notícias, onde a crise da habitação foi motivo de crítica ao Governo.
Basílio Horta destacou a gravidade da situação em Portugal, que se tem agravado nos últimos anos, sendo atualmente um dos maiores desafios. Sobre o bairro do Talude Militar, aponta que se trata de um caso que reflete as dificuldades enfrentadas no país.
“São decisões muito difíceis. Temos de ver o processo, em que condições foi tomada a decisão, quanto tempo demorou e o que se passou. Isto é uma matéria muito séria, e tem de se ter cuidado com as opiniões”, afirmou.
Durante a entrevista, o autarca fez duras críticas à postura do Governo, acusando o executivo de falta de intervenção que leva, consequentemente, as câmaras a terem de lidar com problemas estruturais como a habitação e a saúde, áreas que não são da sua competência.
“As câmaras estão a dar a cara em vários domínios que não são da sua competência”, sublinhou, frisando que, apesar das dificuldades, são as autarquias que têm estado na linha da frente para tentar resolver os problemas urgentes.