Em maio de 2019, já no final das quase cinco horas da insólita audição de Joe Berardo, surgiu um misterioso personagem. Os deputados queriam saber quem era, afinal, o homem que tinha avançado com uma ação cível que viria a impedir a Caixa Geral de Depósitos, BES e BCP de executarem as garantias das dívidas de quase mil milhões.
O ar de espanto e desconhecimento não terá passado, afinal, de uma encenação.
A acusação revela que Augusto Sousa - assim se chamava - era, na verdade, bem conhecido de André Luís Gomes, o advogado que soprava ao ouvido do empresário madeirense. Luís Gomes conheceu-o em casa, quando Augusto ia acompanhar a mulher, que prestava serviços de manicure ao advogado e à mãe.
Sem qualquer relação com a Associação Coleção Berardo, Augusto aceitou assinar uma petição para mudar os estatutos da associação, de forma a vedar o acesso dos bancos às valiosas obras de arte dadas como garantia dos empréstimos.
A acusação apresenta provas de que a ação simulada foi preparada pelo advogado do empresário madeirense, mas patrocinada por Gonçalo Moreira Rato, primo de André Luís Gomes, e agora também acusado por burla qualificada.
Augusto morreu em janeiro de 2016, mas o falecimento nunca foi comunicado ao juiz do processo cível, que, dois meses depois, haveria de concordar com a ação que salvou Joe Berardo.