Numa tentativa de travar o alojamento clandestino ou sem condições, a Polícia Municipal de Olhão avançou esta semana para uma operação conjunta com a Polícia de Segurança Pública (PSP) na cidade algarvia.
Um imigrante acabou detido e outros dois notificados a abandonar voluntariamente Portugal. Foi ainda detetado um caso de alojamento sem o mínimo de condições, numa loja onde viviam 12 pessoas.
“Nós viemos para cá à procura do nosso futuro e viver bem. Eu não fumo, nem bebo. O meu maior problema é que, quando chego a casa, quero descansar e dormir é muito difícil”, disse Nouha, um dos imigrantes que viviam numa loja.
Aos olhos das autoridades ficam claras as condições em que os doze viviam, numa antiga loja em Olhão. Paredes de contraplacado dividem o espaço, onde todos partilham uma cozinha e uma única casa de banho.
Uns trabalham nas obras, outros na apanha da fruta. Dizem residir em Portugal há mais de três anos, todos com autorização de residência e de trabalho. “O problema é que não encontramos casa. É tudo muito caro”, contam.
A operação juntou de forma inédita, no Algarve, o núcleo de estrangeiros e controlo fronteiriço da PSP e a Polícia Municipal de Olhão.
Houve queixas de que a velhinha loja estava habitada sem conhecimento do condomínio, nem do município.
A PSP verificou a situação de cada um dos imigrantes, uns vindos do Senegal, outros de Marrocos e também do Brasil. Nouha é um deles. Chegou a Portugal em 2021, depois dê quatro anos em Itália. É um dos sobreviventes da mortal rota desde o Senegal, através da Líbia.
“Vim para a Europa de barco. (…) Vinha muita gente. Alguns morreram afogados outros, graças a Deus, sobreviveram. Não foi fácil. Até o meu irmão morreu afogado”, contou.
Na antiga loja, a cama custa-lhe 175 euros por mês, um valor que o magro salário lhe permite pagar.
A força conjunta da PSP e da Polícia Municipal avançou depois para a Rua do Comércio, onde há notícia de dois apartamentos a albergar mais de 30 pessoas.
Mas à chegada, as duas realidades são distintas. Num dos apartamentos moravam cinco pessoas em cinco quartos, entre eles quatro guineenses e um romeno, todos trabalhadores qualificados e capazes de pagar 400 euros cada um pelo quarto.
No outro apartamento, as autoridades encontraram cidadãos indianos, chegados há menos tempos. Nem todos, porém, terão futuro em Portugal.
A verificação da documentação detetou problemas com alguns e um acabou por ser detido. Dois outros foram notificados para abandonarem Portugal voluntariamente e outros dois foram chamados a completar processos na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).
Só no Algarve, desde o início do ano, o novo núcleo da PSP já realizou mais de 60 ações de fiscalização.
Entre cerca de 400 imigrantes verificados, 22 acabaram detidos por permanência ilegal.