Em entrevista na SIC Notícias, esta manhã, António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), descreve a "descoordenação" que lhe tem sido relatada dos bombeiros que estão nas frentes de combate aos incêndios.
Segundo António Nunes, este é um problema que não é exclusivamente deste ano, mas que não tem sido resolvido. "Ano após ano, temos vindo a chamar a atenção para os pré-posicionamentos em locais de risco mais elevado", sublinha o presidente da LBP.
António Nunes elogia o "trabalho excelente" da comunidade científica depois dos incêndios de 2017, sendo o de Pedrógão Grande o mais marcante, no entanto este "não foi aproveitado para pré-posicionar os bombeiros para evitar situações como aquela que ouvimos aqui durante alguns dias, injustamente" em que os operacionais são acusados de não estarem nos locais onde eram necessários.
"Não estavam porque não os mandaram para lá. Os bombeiros não têm autonomia. Os bombeiros são mobilizados pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. As missões são lhes dadas por Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e naturalmente que os bombeiros, se não lhe derem a missão, não a podem cumprir", sublinha.
Perante esta falta de autonomia, que condiciona o combate, António Nunes fala num Comando Nacional de Bombeiros que deveria tratar os bombeiros como os "outros agentes de Proteção Civil" que "estão bem". "Nós é que estamos mal porque não temos a nossa autonomia operacional para podermos atuar de acordo com a missão", detalha.
É precisamente esta falta de autonomia que leva, consequentemente, a uma descoordenação que é visível aos olhos de todos
Falta mais comunicação política
António Nunes destaca ainda que se "sente falta de uma voz política ou das vozes políticas mais importantes". Na sua opinião, a "Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil também está a falhar num aspeto fundamental que é de a de informar".
"Nós precisamos de ter uma informação não só para nós, cidadãos em geral, mas também para as forças que estão a atuar e houve casos singulares, como aquele da Covilhã, que nós pudemos assistir durante o fim de semana em que deram boa informação. A população fica mais tranquila e mais calma se souber que em determinado momento, aquela é a estratégia que está a ser implementada para aquela região", argumenta o presidente da LBP.
Aviões Canadair fora de serviço? Foi "opção política"
Quanto à polémica dos aviões Canadair que estão avariados, António Nunes afirma que "foi uma opção política de há uns anos" que "não tem nada a ver com o momento atual".
Para o presidente da Liga, houve uma falta da continuidade da estratégia, o que dificulta o combate e a atuação dos meios. Se olharmos para os últimos 20 anos, já mudámos a proteção civil umas 67 vezes. Isso também condiciona a estratégia", frisa António Nunes.