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Gabinete de Jorge Coelho sabia de problemas na ponte da tragédia de Entre-os-Rios, afirma ex-autarca de Castelo de Paiva

O ex-autarca de Castelo de Paiva, Paulo Ramalheira Teixeira, afirma que o gabinete de Jorge Coelho estava ciente dos problemas na ponte de Entre-os-Rios antes do seu colapso, em 2001. Relativamente à tragédia do Elevador da Glória, defende que a demissão não deveria ser apresentada por Carlos Moedas, mas sim pelo presidente da Carris, que já colocou o seu cargo à disposição e cuja demissão o autarca lisboeta deveria ter aceite.

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Na sequência do acidente com o Elevador da Glória, Carlos Moedas recorreu a outra tragédia nacional para afastar qualquer hipótese de demissão. O autarca lisboeta recordou a queda da ponte de Entre-os-Rios, em 2001, que levou à demissão do então ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho, por assumir a responsabilidade política pelo caso. Moedas alegou que, ao contrário de si, Jorge Coelho já tinha conhecimento da fragilidade da infraestrutura.

As declarações de Carlos Moedas geraram polémica dentro e fora da esfera política e deixaram no ar uma questão: sabia, de facto, Jorge Coelho que existia algum problema com a estrutura da ponte?

Em entrevista à SIC Notícias, Paulo Ramalheira Teixeira, ex-autarca de Castelo de Paiva, onde aconteceu a tragédia, afirma que o Gabinete de Jorge Coelho tinha conhecimento da existência de problemas na ponte sobre o Rio Douro, que colapsou a 4 de março de 2001.

"Eu não tenho dúvidas de que o gabinete do ministro [Jorge Coelho] sabia. As queixas eram em relação ao pavimento. Não dava para passar um veículo ligeiro e um pesado", frisa.

Quando assumiu o cargo de autarca de Castelo de Paiva, em 1989, alertou para a necessidade urgente da construção de uma nova ponte. Contudo, nunca foi recebido por nenhum ministro das Obras Públicas, apenas por três secretários de Estado que tinham pleno conhecimento dos problemas e da falta de segurança no tabuleiro da ponte.

Recorda ainda a existência de uma inspeção subaquática realizada em 1986, que acabou por ficar "na gaveta", e que identificava buracos nos pilares da estrutura, apontando para a iminência do colapso, defendendo que houve negligência por parte do Estado.

"Passei muitas dificuldades como presidente da Câmara Municipal porque não era ouvido em Lisboa. Só efetivamente após a queda da ponte é que começaram a olhar para o país real, para Castelo de Paiva, e aí sim fizeram o que nós exigíamos há muitos, muitos anos."

Afirma que, na sequência da tragédia que causou a morte de 59 pessoas, Jorge Coelho teve uma atitude muito digna e pioneira no país, embora, na sua opinião, o ex-ministro tenha apresentado a sua demissão para evitar a queda do Governo liderado por António Guterres.

"Quero a verdade acima de tudo"

Esta quinta-feira, Paulo Ramalheira Teixeira escreveu um artigo de opinião para o Observador, intitulado "Quando a verdade é inconveniente...", onde descreve todos os alertas que fez, ao longo dos anos, sobre os problemas na ponte de Entre-os-Rios.

Afirma que o seu objetivo é que a verdade prevaleça e, relativamente às declarações de Carlos Moedas, de que Jorge Coelho sabia da existência de problemas na estrutura da ponte, ressalva que pelo menos três secretários de Estado tinham conhecimento dos problemas no tabuleiro, deixando no ar a possibilidade de que o ex-ministro também estivesse informado sobre esse cenário.

Ex-autarca rejeita demissão de Carlos Moedas

Para o ex-autarca de Castelo de Paiva, não deveria ter sido Carlos Moedas a apresentar a sua demissão na noite da tragédia do Elevador da Glória, mas sim "alguém da Carris". Recorde-se que o presidente da Carris colocou o seu lugar à disposição, mas o autarca de Lisboa não aceitou.

[Artigo atualizado às 21:42]