Há mil anos, a cidade que é hoje Lisboa era território muçulmano há 3 séculos, e iria continuar a sê-lo até à conquista cristã, em 1147, ou seja, por mais um século e duas décadas. A Uchbuna ou Al-Ushbuna era uma cidade fervilhante, com uma mesquita central (muito provavelmente onde hoje fica a Sé) e uma população transbordante, o que obrigou ao crescimento da cidade para lá das muralhas, quer para o arrabalde oriental (“Al-Hamma” … ou Alfama), quer para o ocidental, na atual baixa pombalina.
Ainda hoje a maioria dos lisboetas desconhece que, da Lisboa islâmica, saiu uma expedição de marinheiros, conhecidos como “os aventureiros”, a desbravar a costa ocidental africana, muito provavelmente até às ilhas de Cabo Verde ou São Tomé, 500 anos antes dos seus sucessores lisboetas.
Ao contrário dos muçulmanos, que por volta do século XI, se tornaram a maioria da população lisboeta, os judeus sempre foram uma minoria. Mas as suas raízes no território da capital, está agora comprovada com um achado arqueológico extraordinário: um símbolo judaico marcado num pedaço de pão com 1500 anos. Durante séculos, a comunidade terá vivido em judiarias na atual Baixa, Chiado e até em Alfama, onde subsiste a “rua da Judiaria”.
A partir de certa altura do domínio cristão, as tensões começam a minar a relação entre comunidades: os mouros vão ser relegadoss para a inóspita Mouraria, os judeus começam a ser segregados em judiarias fechadas à chave durante a noite à noite. O édito de expulsão do final do século XV, as conversões forçadas e as perseguições religiosas (que se prolongaram durante séculos) praticamente erradicaram as minorias religiosas do território nacional, tornando surpreendente a ideia de uma Lisboa multicultural e com pluralidade religiosa na Idade Média.
No episódio desta semana, o jornalista Miguel Franco de Andrade conversa com o investigador Manuel Fialho, sobre como conviviam diferentes comunidades na cidade medieval. Oiça aqui a entrevista
Histórias de Lisboa é um podcast semanal do jornalista da SIC Miguel Franco de Andrade com sonoplastia de Salomé Rita e genérico de Nuno Rosa e Maria Antónia Mendes.
A capa é de Tiago Pereira Santos em azulejo da cozinha do Museu da Cidade - Palácio Pimenta.
Ouça aqui as ‘Histórias de Lisboa’: