A probabilidade de um meteorito deixar um rasto de destruição na Terra é diminuta, mas não deixa de ser real, confirma Rui Agostinho, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), em entrevista ao podcast Futuro do Futuro.
Tanto na Terra como na Lua, os meteoritos continuam a cair com alguma regularidade. Rui Agostinho confirma que o risco de uma colisão de um corpo celeste maior “existe”, mas também lembra que “quanto maior for o objeto, menos provável” é esse tipo de choque. “O intervalo de tempo de embates de grandes objetos na Terra torna-se cada vez maior, maior, maior… Mas a resposta é sim, caem cá”, refere.
Numa entrevista feita na sequência da luminosa queda de um meteorito que se julgou ir parar a Castro Daire, no distrito de Viseu, e afinal, terá afundado no Atlântico, o astrofísico aproveitou para recordar o sucedido em 2013, na cidade russa de Cheliabinsk, com a queda de um meteorito que os especialistas estimam que teria cerca de 17 metros de diâmetro.
“A energia cinética de movimento com que ele (o meteorito de Cheliabinsk) entrou na atmosfera equivaleu a 22 vezes a energia da bomba atómica de Hiroshima”, informa o cientista.
Pouco depois do despenhamento, proliferaram as notícias sobre centenas de ferimentos causados por vidros estilhaçados na cidade russa: como esperado, o meteorito desintegrou-se devido à velocidade vertiginosa com que entra em atrito na atmosfera da Terra - mas alguns detritos terão caído por fim num lago. Todos os estragos foram gerados pela onda de pressão gerada já no final do percurso, antes do embate, mas se uma bola de fogo com 17 metros de diâmetro, fosse diretamente contra o casario de uma cidade, o cenário poderia ser bem diferente.
“Imagine o caso extremo de uma bola de 17 metros que entrava como um todo pelos edifícios da cidade, teríamos aí destruição total!”, prevê o investigador do IA que também dá aulas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Rui Agostinho admite que os meteoritos têm valor para quem os estuda ou para os colecionadores, mas considera que o valor das matérias-primas está longe de justificar a cobiça.
“Em termos de matéria-prima para vender e fazer dinheiro, esqueça! Ninguém vai pegar no meteorito e pôr na sua fundição de ferro e alumínio para tirar partido daquilo”, responde o cientista.
Sobre o mais recente meteoro que sobrevoou Portugal e Espanha com um clarão azulado, Rui Agostinho admite que possa ter havido alguma precipitação no cálculo do local em que haveria de despenhar-se. “(Às autoridades) Foi-lhes pedido que fossem para as montanhas em Castro Daire à procura de restos daquilo que teria caído, mas isso foi, de facto um engano”, refere.
Na atualidade, só há monitorização de objetos com mais de 500 metros de diâmetro que poderão vir a colidir com a Terra. Rui Agostinho recorda que, abaixo dessa dimensão, não há tempo para avisar as localidades onde se acredita que o meteorito pode cair devido a velocidade que pode chegar aos 160 mil quilómetros por hora “basicamente não dá tempo nada”.
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