Paula deu entrada no hospital às cinco da tarde. Tinha sofrido uma rutura da bolsa, mas ainda sem contrações. Foi-lhe administrada medicação para induzir o parto e ligada a um monitor cardíaco. Segundo a mãe, passou a noite inteira sem qualquer acompanhamento. Só às oito da manhã seguinte apareceu uma parteira.
O relatório do hospital indica que houve uma cesariana de emergência por bradicardia - o feto estava com os batimentos cardíacos perigosamente baixos. Paulo César nasceu com um índice de Apgar de 5, um sinal de asfixia.
Ficou internado 15 dias. Depois da alta, a mãe pediu à pediatra que assistira ao parto para continuar a acompanhar o bebé nas consultas seguintes. Durante meses, não falharam uma consulta.
O diagnóstico: paralisia cerebral grave
Perante as queixas, a resposta era sempre a mesma: fisioterapia para fortalecer os músculos. Só aos seis meses, quando foi enviada para um centro especializado, Paula soube o diagnóstico: paralisia cerebral grave. Paulo César também sofre de epilepsia. Não fala, não anda e usa fraldas.
A vida da família mudou radicalmente. Paula deixou de trabalhar. Anos depois teve um segundo filho, saudável. Mas o casamento não resistiu. Divorciada, Paula teve de recomeçar. Passou a levantar-se às quatro da manhã para organizar o dia dos filhos. Levava o mais velho para casa dos avós, onde ficava até à chegada da carrinha da escola. O mais novo ficava também com os avós para não acordar tão cedo.
Trabalhava numa fábrica de estofos. Quando regressava a casa, havia ainda as tarefas do costume: preparar lancheiras, roupas, refeições.
2010: Paula avança com queixa
Sempre acreditou que tudo começou naquele parto. E por isso, em 2010, avançou com uma queixa contra o hospital, a parteira e a pediatra.
Logo no início, foi pedida uma perícia médica. Os registos cardíacos do parto foram enviados para Coimbra, mas o especialista considerou-os ilegíveis. Durante dez anos, o processo esteve parado.
Só em 2020, após uma reportagem da SIC, houve avanços. O perito foi finalmente chamado ao tribunal, para analisar os registos no local. Um ano depois, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga confirmou a negligência médica.
A Administração Regional de Saúde recorreu, mas o Supremo manteve a condenação: os problemas de Paulo César resultaram da falta de assistência no parto.
A indemnização ultrapassa o 1 milhão e 800 mil euros. A Administração Regional de Saúde do Norte foi condenada a pagar por danos patrimoniais e não patrimoniais, mais juros e custas judiciais.
Contactado pela SIC, o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais diz que processos assim costumam demorar três anos. Este durou doze.