Geração 70

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A última cenoura que Portugal recebeu e a chegada (ou não) de um novo Salazar

Com um corte de cabelo à tigela, tímido e recatado, em miúdo, João Miguel Tavares refugiava-se na leitura. Hoje, continua a gostar de livros, mas diz que não salvam o mundo e prefere um analfabeto a uma “besta” que lê. Uma conversa a não perder, essencialmente sobre a política do país, sem paninhos quentes.

A última cenoura que Portugal recebeu e a chegada (ou não) de um novo Salazar
Jose Fernandes

João Miguel Tavares nasceu em setembro de 1973, em Portalegre. É cronista e comentador político. Na SIC é um dos elementos do painel do Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer.

Colunista de direita, nega pertencer à tribo da direita liberal. Aliás, confessou já ter votado em António Costa e Fernando Medina. Mais do que a polémica, prefere o debate sem amarras nem paninhos quentes. Porque, para ele, o respeitinho não é bonito.

Jose Fernandes

“O sítio onde fui mais feliz”

Da infância recorda a quinta dos avós, onde passava as “férias grandes”, conta que foi o sítio onde foi mais feliz.

Os pais eram funcionários públicos de uma classe média que “vivia bem” à sombra do Estado. Aliás, o Estado, que hoje João Miguel Tavares critica pelo peso excessivo, teve um papel “fundamental" na sua vida e na da família.

“Eu sempre esclareci que sou filho desse Estado, andei sempre em escolas públicas, hospitais públicos, etc, essa rede de segurança é fundamental”.

"Existe muito a ideia de que quem é de direita é à partida contra o Estado o que me parece uma visão bastante infantil".

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A timidez, as miúdas e os livros

“Tímido e recatado”, sem sucesso com as “miúdas”, refugiava-se na leitura. Casou com a primeira namorada (“muito acima da minha Liga”) e tem quatro filhos. Vivem numa casa “cheia de jornais e livros”, mas recusa-se aos “proselitismos” na educação dos filhos.

“Não são os livros que salvam as pessoas ou salvam o mundo. As pessoas podem ser umas grandes leitoras mas ao mesmo tempo umas grandes bestas”.

Sempre que regressa à cidade onde cresceu percebe que “Portalegre era mais povoada nos anos 80 do que agora”. “Há uma desilusão geral do país consigo próprio, e isso tem muito a ver com a história do elevador social.”

Jose Fernandes

“Parece que nos últimos 20 anos não estamos a lutar por nada”

Assumido crítico da “elite lisboeta", defende que Portugal já teve “a coisa” pela qual fez sentido “caminhar”. “Na Democracia lutámos para entrar na comunidade europeia, depois para entrar para o pelotão da frente do Euro e, de repente, entrámos no Euro e, pumba, parece que nos últimos 20 anos não estamos a lutar por nada”.

No capítulo da política aponta à “hegemonia do PS, historicamente uma opção perigosa”, à “erosão do PSD" e à "queda da qualidade dos seus líderes e quadros". E sobre o Chega, uma certeza: “vão-me desculpar, André Ventura diz as coisas mais bárbaras, mas é falso que o Chega seja um partido antidemocrático.”

O cronista acrescenta ainda, em tom provocatório, “essa ideia de quem vem aí um novo Salazar… não, não vem um novo Salazar”.


Não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho.

Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.