Encontraram-se perto das 8 da manhã no Funchal para cerca das 10h00 darem o início ao percurso. Foi dada a partida e os jovens começaram a prova com alguns chuviscos. Logo no início começaram a perder-se. Com o passar do tempo, as condições meteorológicas agravaram-se. Os candidatos, quase todos de calções e t-shirt, começaram a sentir frio, cansaço e fome. A sinalização do percurso revelou-se deficiente e difícil de detectar no meio do nevoeiro. A agravar o cenário havia apenas três guardas para todo o percurso, sem equipamento de contacto para uma eventualidade.
O Pico do Areeiro, o final da prova, era o único local com acesso automóvel. Nesse local estava, desde as 13h00, uma única ambulância preparada para tratar eventuais ferimentos ligeiros.
Na corrida contra o tempo estavam Miguel e o melhor amigo, Miguel Ivo. Os dois do Garajau, os dois com pouco mais de 18 anos, ambos tentavam a sorte em nome de um futuro melhor e de empregos estáveis. Mas Miguel começou perceber cedo que o dia podia não correr bem. Duas horas após o início da partida começou a sentir os primeiros sinais de hipotermia. O tempo tinha agravado, entretanto, e a chuva, como contou, parecia alfinetes. Não se via mais de 1 metro e meio. Miguel acabou por dizer ao melhor amigo que precisava de parar para descansar e pediu-lhe que continuasse para não esfriar. Foi a últimas vez que se viram.
O alerta às autoridades só aconteceu depois das 17h30, depois da confirmação da primeira morte dada pelo hospital do Funchal. Os meios foram accionados pela Protecção Civil. Gonçalo Pereira, o coordenador do concurso, nunca pediu ajuda e garantiu que tudo estava controlado quando questionado, por telefone, pelo Director Regional de Florestas, que se encontrava num casamento no Funchal.
Gonçalo Pereira foi condenado a um ano e meio de prisão com pena suspensa. O director regional das Florestas, Rocha da Silva, foi sujeito a uma multa de três mil euros e mantém-se no mesmo cargo.
Doze anos depois da subida ao Pico do Areeiro, o Perdidos e Achados regressou à Madeira e foi refazer o percurso. Ouvimos sobreviventes, socorristas, a protecção civil. Ouvimos as memórias daquele dia fatídico e foram-nos recusados os pedidos de entrevistas aos responsáveis da prova. A verdade é que passados estes 12 anos há ainda quem não tenha desistido de pedir que seja feita Justiça.
Jornalista: Bárbara Alves da Costa
Imagem: Vítor Quental
Montagem: João Nunes
Produção: Eduarda Batalheiro; Diana Matias
Coordenação: Sofia Pinto Coelho
Direcção: Alcides Vieira