As imagens, com que a história começa, transportam-nos para esse universo de sombras e silhuetas que constroem a noite.
E que verdade se esconde por detrás desta história?
Que sombras são estas que a noite projeta?
A televisão é inimiga do jornalismo de investigação, porque investigar significa desvendar verdades ocultas. As verdades ocultas são aquelas que – permanecendo ocultas – servem o interesse de alguém. Ora, a câmara de televisão escancara. Dá demasiado nas vistas. Se a verdade joga ao gato e ao rato com o jornalismo, ela esconde-se, sobretudo, da câmara.
Mas a inimizade entre o jornalismo de investigação e a câmara não pode bloquear a investigação na plataforma a que, ainda hoje, mais gente acede.
O jornalismo televisivo só tem de contornar a sua própria limitação para relatar o efeito das verdades ocultas.
Foi essa a estratégia que usámos para contarmos esta história. Criámos um universo paralelo.
A verdade, que o dia, finalmente, desvendou, era, afinal, um imenso buraco. O buraco… escavado na Rioforte por gente do GES.
A 14 de março de 2014, o Banco de Portugal recebeu a informação que lhe teria permitido revelar a dimensão desta cratera.
A televisão vê-se forçada a exibir a imagem de um universo empresarial que já ruiu, que nunca teve existência física real. É certo que poderíamos mostrar a Rioforte, holding do universo não financeiro do GES, através da imagem do seu ativo mais amplo – a Herdade da Comporta. Mas a Herdade da Comporta não nos transportaria para o centro desta história – o buraco escondido da Rioforte.
“A verdade, que o dia, finalmente, desvendou, era, afinal, um imenso buraco”. A frase, retirada da reportagem, apoia-se em duas metáforas: o nascimento do dia retrata, simbolicamente, o momento em que o Banco de Portugal ficou a conhecer a dimensão do buraco da Rioforte; a pedreira de mármore em Estremoz é um amplo buraco de 70 metros de profundidade e 100 metros de diâmetro - segunda metáfora - cabem, dentro desse buraco, as contas ocultas da Rioforte.
A 14 de março de 2014, o Banco de Portugal soube que a Rioforte estava falida. Esburacada por um valor negativo de 1000 milhões de euros. O Banco de Portugal entendeu não passar essa informação para o mercado, uma vez que considerou a falência da Rioforte apenas estratégica; seria absorvida pelas contas totais do Grupo Espírito Santo.
Pode até não ter impacto nas contas do grupo, mas teve – e muito - na Rioforte.
Na Rioforte e em todas as entidades que tinham comprado divida desse universo empresarial. Uma coisa é emprestar dinheiro a uma empresa que vale 932 milhões de euros; outra, muito diferente, é empresta-lo a uma empresa falida.
Sabendo isso, por que razão se calou o Banco de Portugal?
A Reportagem Especial que emitimos esta terça-feira esforça-se por dar essa resposta. Veremos se do esforço resulta luz.
Entretanto, no buraco, a equipa da SIC envolveu-se 48 horas com o cenário. O resultado é a absorção de um conjunto imenso de experiências limite, que guardaremos no capítulo dedicado às ações radicais.
Quase dois dias do nascer ao por do sol. A metáfora visual - que nos embrenha no buraco oculto da Rioforte - serviu-nos para cumprir as exigências da televisão. Veja a Reportagem Especial e conclua por si mesmo: conseguimos?
"À Noite Todos os Gatos São Pardos” é uma Reportagem Especial de Pedro Coelho, com imagem de José Silva e Luís Pinto, edição de imagem de Rui Rocha, grafismo de Cláudia Ganhão, tratamento de cor de José Dias, pós-produção áudio de Octaviano Rodrigues, coordenação de Marta Reis, direção - Ricardo Costa.