Grande Reportagem SIC

Assalto ao Castelo

O sistema financeiro português acumula prejuízos. Nos últimos 9 anos o país suportou uma nacionalização, uma falência, duas resoluções, e diversas recapitalizações com empréstimos avalizados pelo Estado. A conta não para de somar números no vermelho. E não se prevê que pare tão cedo. Uma interminável lista de devedores correu todas as capelinhas da banca a pedir dinheiro que nunca foi pago. Essas dívidas, vindas do tempo do dinheiro fácil, forçaram este ambiente pré-comatoso da banca portuguesa.

Assalto ao Castelo

No tempo em que foi possível distribuir lucros, os acionistas encaixaram; quando chegou o tempo dos prejuízos, estes chegaram aos bolsos do país inteiro. No topo da pirâmide deste mundo insólito está a entidade a quem o legislador entregou a tarefa de supervisionar, monitorizar, avaliar o comportamento da banca e dos banqueiros.

No topo dessa pirâmide está o Banco de Portugal. Ao longo destes quase dez anos, a instituição liderada, desde 2010, por Carlos Costa não conseguiu travar este impulso da banca para o abismo. A equipa de jornalistas que investigou o BPN, a Parvalorem e o Banif insiste na banca. Desta vez escrutinamos o trabalho do Banco de Portugal no caso BES.

Acedemos a um vasto conjunto de documentos que a instituição liderada por Carlos Costa nunca fez chegar ao Parlamento. Esses documentos provam que o Banco de Portugal conhecia, a fundo, o estado financeiro do GES e o grau de contaminação do BES.

Um grupo de técnicos do BdP avaliou em detalhe, em novembro de 2013, as condições de Ricardo Salgado para continuar a gerir o banco da família. Na conclusão, que Carlos Costa omitiu na Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, os técnicos defendiam a rápida saída de Salgado. O ex-banqueiro só saiu em junho, sete meses depois da emissão desta nota informativa.

Da lista de documentos, que iremos revelar, faz parte uma troca de correspondência entre o Banco de Portugal e o supervisor bancário do Dubai, que coloca o emirato no centro do escândalo do GES/BES. A ponte que é possível estabelecer entre Angola e o Dubai mostra o envolvimento da chamada elite angolana neste escândalo; falamos de personalidades politicamente expostas ao regime de José Eduardo dos Santos.

Chega ao fim um longo trabalho de investigação que se prolongou por 5 meses. Será emitido em três grandes reportagens, agendadas para 1, 2 e 3 de março.

Reportagem de Pedro Coelho, com imagem de José Silva, Luís Pinto e 4KFly, edição de imagem de Rui Berton e produção editorial de Diana Matias.