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"As crianças são o mais importante"

Na Ucrânia os homens entre os 18 e os 60 anos estão proibidos de sair do país. Entre as exceções estão os pais de três ou mais filhos menores. Illia Todorovsych é uma dessas exceções.

"As crianças são o mais importante"
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Ao longo do último ano, mais de 8 milhões de ucranianos fugiram em busca de paz. Portugal foi um dos países que acolheu, desde o primeiro momento, milhares de refugiados.

A Grande Reportagem acompanhou o percurso de quatro famílias. Hoje, contamos a história de Illia Todorovsych, um dos protagonistas da reportagem "De tudo o que é meu sinto falta".

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No sopé da serra de Anta, Merufe é uma das 24 freguesias do concelho de Monção. Tem cerca de mil habitantes, que triplicam por altura do verão com a chegada dos emigrantes. No ano passado a aldeia mobilizou-se para receber refugiados da guerra da Ucrânia.

A fuga de Illia, Anna e os seus 10 filhos

Era início de abril quando a família Todorovsych chegou a Merufe. O pai Illia, a mãe Anna e os 10 filhos fugiram de uma aldeia junto à fronteira com a Roménia em busca de paz e de um futuro melhor.

“Viemos por causa dos filhos. As crianças são o mais importante.” Illia Todorovsych

Vieram para Portugal porque têm família em Monção. Quando chegaram tinham uma casa para morar, que foi cedida por uma pessoa que prefere manter o anonimato.

Se não fosse assim teria sido muito difícil encontrar no concelho uma habitação para esta família numerosa. A solidariedade manifestou-se de muitas outras formas: a população de Merufe doou bens alimentares, roupas, produtos de higiene e brinquedos para as crianças.

"As pessoas tratam-nos bem"

A Câmara Municipal de Monção faz um acompanhamento permanente à família para garantir que nada lhes falta.

“Este lugar é bom. As pessoas tratam-nos bem.” Illia Todorovsych

Illia Todorovsych e a mulher Anna
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Na Ucrânia, Illia trabalhou na floresta, no campo, e foi pastor. Em Portugal arranjou trabalho como cantoneiro. Gosta do que faz, e sobretudo agrada-lhe ter a certeza que no final de cada mês recebe o suficiente para pôr comida na mesa.

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Na Ucrânia o dinheiro não chegava para proporcionar o essencial aos filhos. Além do salário mínimo de Illia o orçamento compõe-se com os 1369 euros de Rendimento Social de Inserção (RSI) e abonos pagos pela Segurança Social.

Do que deixou para trás, Illia recorda com nostalgia os animais que tinha. Sobretudo o cavalo, que era o meio de transporte da família. Em Merufe não há transportes públicos. A morar a 15 quilómetros da cidade de Monção, Illia está dependente de boleia para tudo: para ir trabalhar, para ir às compras ou ao centro de saúde.

Falta ainda aprender português

A língua é uma das maiores barreiras à integração de refugiados no país de acolhimento. Illia e a mulher Anna ainda não falam português. Não têm aulas presenciais nem online.

“Temos o problema de não haver o computador, nem internet na habitação”. Ana Luísa Rodrigues, Assistente Social da Câmara Municipal de Monção

Esperam aprender português com os filhos que foram matriculados na escola mal chegaram a Portugal. Os professores dizem que as crianças estão completamente integradas mas admitem que é preciso algum esforço de parte a parte para que a aprendizagem se faça com bons resultados.

Dos 10 filhos só a mais velha - de 18 anos - já não mora com os pais. Arranjou trabalho e casa em Monção. Conquistou a sua independência.

Família em Portugal
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Illia e Anna não tencionam regressar à Ucrânia. Estão convencidos de que em Portugal vão conseguir proporcionar um futuro melhor aos filhos. Os mais novos conquistaram já o coração dos merufenses e aos fins-de-semana ou nas férias escolares andam de casa em casa.

Aida Domingues, uma das vizinhas diz que "Já é amor!" e confessa que iria sentir muitas saudades se a família ucraniana regressasse a casa.