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“Às Voltas Para Nascer”: os longos quilómetros que separam as grávidas do hospital

“Às Voltas Para Nascer”: os longos quilómetros que separam as grávidas do hospital

A caminho do parto, a sul do país, há mulheres que chegam a fazer mais de duas horas para chegar ao hospital. O fecho dos serviços de obstetrícia, pediatria e a rotatividade aos fins de semana tem vindo a aumentar as distâncias, até à maternidade indicada, na hora do parto.

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Odemira é o maior concelho do país e o único que ganhou população nos últimos anos, em virtude da comunidade de imigrantes. A maioria das grávidas são assistidas no Hospital de Beja, onde é difícil chegar devido ao mau estado do piso.

“Um dos nossos grandes problemas no transporte de parturientes para Beja são os primeiros 25 quilómetros que ligam Odemira a Santa Luzia. O estado do piso está degradado com falta de manutenção há muito tempo, causa desconforto e acaba por acelerar o processo de parto”, contou à SIC Luís Oliveira, comandante dos bombeiros voluntários de Odemira.

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A caminho do parto, as mulheres dão voltas e voltas para conseguir chegar a uma maternidade que as possa receber.

A jornalista Paula Castanho fez vários percursos até chegar a diferentes blocos de partos. A norte do concelho de Odemira, as mulheres de Sines estão a ser desviadas para o Hospital de Beja devido aos repetidos encerramentos na urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal. Por falta de meios, muitas parturientes chegam a Beja em viatura própria.

“Eu iniciei a minha viagem em Santiago do Cacém, supostamente o hospital iria acionar bombeiros, mas não havia qualquer cooperação disponível naquele horário, madrugada. Acabaram por ligar para hospital de Setúbal, sendo que em Setúbal não havia qualquer tipo de urgência pediátrica, daí ter-me dirigido para aqui para o hospital de Beja já com quatro centímetros de dilatação”, disse Raquel Silva.

Em 2022 nasceram 3499 crianças no centro hospitalar universitário do Algarve. Apenas Coimbra superou em número de nascimentos.

Nos últimos meses, a maternidade de Portimão tem fechado dois fins de semana por mês, devido à falta de pediatras. Na hora do parto, as mulheres aguardam, até ao limite, indicações do SNS 24 sem saber onde os filhos vão nascer.

“É uma preocupação muito grande, eu tinha que fazer cesariana por questões de saúde, o facto de a maternidade fechar deixou-me com coração nas mãos”, admitiu à SIC Catarina Lourenço.

Para não ficarem na expetativa até hora do parto, são cada vez mais os pais portugueses a programar o parto nos hospitais privados.

“Nestes últimos tempos somos a maternidade do país que tem, infelizmente, mais experiência em encerramento do bloco de partos. Não é bom para os utentes, não é bom para os profissionais, é uma péssima imagem para o serviço”, confessou Fernando Guerreiro, diretor de ginecologista e obstetrícia no Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

Não são apenas os bebés a dar a volta para nascer, mas também os pais a dar voltas e voltas a caminho do parto para que os filhos nasçam em segurança. Uma Grande Reportagem SIC assinada pela jornalista Paula Castanho com imagem de João Venda e edição de Ricardo Tenreiro.

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