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"Tínhamos de nos vingar para restaurar a honra da família": a história de um adolescente escolhido para matar

Aos 15 anos, Celal conhecia apenas a cultura em que tinha sido educado. O homicídio que lhe estava a ser imposto fez com que se sentisse orgulhoso, acreditou que isso lhe traria o respeito da sua comunidade, mas também teve dúvidas.

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Celal Altuntas tinha 15 anos quando recebeu a ordem para matar. A ordem foi dada pela própria família deste neerlandês de origem turca.

"Não foi um pedido, nem uma pergunta. Foi imposto. Foi decidido por mim quando eu tinha 15 anos. Dois dos meus primos tinham sido assassinados, eu nem os conhecia. Mas tínhamos de nos vingar de qualquer forma."

Aos 15 anos, Celal conhecia apenas a cultura em que tinha sido educado. O homicídio que lhe estava a ser imposto fez com que se sentisse orgulhoso, acreditou se isso lhe traria o respeito da sua comunidade, mas também teve dúvidas.

"Por dentro eu dizia não, mas não podia dizer isso porque tinha medo das reações e medo de ficar isolado, de já não pertencer ou de que os meus colegas já não quisessem jogar futebol comigo."

A sua família ainda tinha de concordar com uma coisa: a compensação financeira. No final, o homicídio acabou por não se concretizar.

"Eu sei que, se tivesse chegado a esse ponto, eu teria cometido o homicídio"

Os crimes de honra ainda são frequentes entre as comunidades originárias da Síria, Afeganistão ou Turquia que vivem nos Países Baixos. Celal acredita que é preciso começar a mudar mentalidades. Por isso, escreveu um livro que conta a sua experiência.

"Existem mais opções neste país. Felizmente, temos uma força policial que pode ajudar. Podemos restaurar a honra sem recorrer à violência."