Repórteres do Mundo

Está a agricultura dos Estados Unidos em risco? E os glaciares na Suíça? E também há capivaras ameaçadas

As políticas migratórias de Donald Trump estão a ser contestadas por muitos agricultores, já faltam mãos para apanhar a fruta. O calor do verão da Suíça ultrapassou recordes e as conseguências são visíveis num dos mais conhecidos glaciares. Na Argentina, a polémica envolve capivaras. Os animais foram expulsos para construir um bairro de luxo, mas agora estão a voltar e os moradores não sabem o que fazer. Estes são alguns dos destaques do Repórteres do Mundo.

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Agricultura em risco? O resultado da política migratória de Donald Trump

Nos Estados Unidos, a política de deportações em massa promovida pelo Presidente Donald Trump está a deixar os campos agrícolas sem trabalhadores. A consequência? Fruta a apodrecer nas árvores e agricultores em falência.

Em Nova Jérsia, nos Estados Unidos, as ameixas estão maduras e prontas para serem colhidas. Mas há cada vez menos mãos para o fazer. Os trabalhadores com vistos temporários ainda garantem parte da colheita, mas muitos outros, sem documentos, têm medo de aparecer.

Kurt Alstede é proprietário de uma exploração agrícola em que os imigrantes são a maioria dos trabalhadores. Conseguiu renovar os vistos, mas fala de um processo caro e burocrático.

"São um pesadelo regulatório, mas é a única forma de um negócio agrícola sazonal sobreviver hoje em dia."

Estima-se que 42% dos trabalhadores agrícolas nos EUA estejam em situação ilegal. O medo de serem detidos está a afastá-los dos campos, e os agricultores avisam que sem mão-de-obra estrangeira, a produção agrícola fica em risco.

"Para continuarmos a ser o celeiro do mundo, precisamos de mão-de-obra suficiente. E para isso, precisamos de trabalhadores vindos do estrangeiro."

A proposta de alguns congressistas republicanos de obrigar americanos desempregados a trabalhar nos campos não convence os agricultores. A realidade é que não há pessoas suficientes em idade ativa para dar resposta às necessidades da agricultura.

O alerta dos agricultores é claro: menos fruta colhida significa preços mais altos para os consumidores.

Morteratsch, o glaciar que está a derreter diante dos nossos olhos

O verão nos Alpes suíços ficou marcado por temperaturas elevadas. O glaciar Morteratsch, outrora imponente, está a derreter rapidamente e tornou-se um símbolo do impacto das alterações climáticas.

O verão nos Alpes suíços ficou marcado por temperaturas elevadas. O glaciar Morteratsch, na Suíça, outrora imponente, está a derreter rapidamente e tornou-se um símbolo do impacto das alterações climáticas.

Em 1908, ao sair da estação de comboios, os visitantes pisavam diretamente o gelo. Hoje, é preciso caminhar cerca de três quilómetros para chegar ao início do glaciar. Ao longo do percurso, há placas que mostram onde o gelo chegava em anos anteriores.

"Esta área estava coberta por uma camada de gelo com cem metros de altura, que se estendia por quilómetros. Tudo isso derreteu nas últimas décadas."

Nos últimos anos, o recuo acelerou. O calor é intenso e quem sobe ao glaciar usa apenas t-shirt.

"Estive aqui há oito anos. O glaciar estava mais abaixo. O gelo desapareceu. Senti uma enorme tristeza. Estamos a destruir esta paisagem."

Os visitantes olham para a paisagem e dizem que uma coisa é ouvir falar das alterações climáticas, outra é ver o degelo a acontecer diante dos nossos olhos. No final da longa caminhada, todos falam da mudança que é necessária para travar a crise climática.

Revolução na investigação científica? Cientistas usam vermes em vez de ratos

Uma equipa de cientistas nos Países Baixos está a revolucionar a investigação ao utilizar vermes como alternativa aos tradicionais ratinhos de laboratório. Estes pequenos organismos, com apenas alguns milímetros de comprimento, estão a revelar-se surpreendentemente semelhantes aos seres humanos em termos neurológicos.

Apesar da aparência, possuem olhos e um sistema nervoso com dois hemisférios cerebrais. Usam dopamina e serotonina. Chamam-se planárias e são vermes.

A comunicação celular nestes organismos é feita com neurotransmissores semelhantes aos dos seres humanos e isto torna-os candidatos ideais para os testes iniciais de substâncias que afetam o cérebro.

Para Roger Adan, membro do Comité de Ética os Testes em Animais, trata-se de um enorme avanço para a ética na ciência.

Em 2023, foram realizados cerca de 413 mil testes em animais, maioritariamente em peixes, ratos e ratinhos. A introdução das planárias pode reduzir significativamente esse número.

"Se já se observar efeitos negativos nos vermes, talvez nem seja necessário avançar para testes em mamíferos"

Além disso, ao testar diferentes doses em vermes, é possível reduzir o número de ratos necessários para estudos posteriores em humanos.

As planárias são famosas pela sua capacidade de regeneração. Se forem cortadas ao meio, regeneram automaticamente a cabeça ou a cauda. Este processo é semelhante ao desenvolvimento embrionário humano, o que permite testar o impacto de medicamentos na gravidez.

"Corta-se a cabeça, aplica-se o medicamento e observa-se se conseguem regenerar ou se surgem defeitos."

Este avanço pode representar uma revolução na forma como se realizam testes laboratoriais e promover uma ciência mais ética, eficiente e inovadora.

Vinho do norte da Europa, uma nova era na produção vinícula

A Noruega, conhecida pelas suas paisagens geladas e fiordes majestosos, está a tornar-se num novo protagonista da produção vinícola europeia. Com cerca de 150 mil videiras já plantadas, o país vive um verdadeiro boom na viticultura, desafiando as expectativas e o clima tradicionalmente adverso.

John Reidar Mitander é um dos rostos de uma tendência que cresce no norte da Europa. O fundador da Voie Vineyard fala com entusiasmo da atividade que iniciou em 2023 e destaca as vantagens de um clima que parecer adverso à produção de vinho.

"Para quem acompanha o processo, temos a vantagem de que a acidez e o açúcar precisam de estar alinhados, ao mesmo tempo que a uva tem de estar madura, com sementes castanhas no momento certo. No sul da Europa, enfrentam grandes desafios porque o teor de açúcar sobe demasiado rápido, especialmente para vinhos espumantes."

Anne Enggravo também faz parte de uma nova geração de produtores. A enóloga destaca a importância da investigação em castas adaptadas ao clima nórdico.

"Ganhámos melhor conhecimento sobre castas mais adaptadas ao clima. É importante não definirmos já o que é o vinho norueguês, porque ainda estamos na infância como país produtor. Todas as possibilidades estão em aberto."

Com o aumento da plantação de videiras, o investimento em conhecimento técnico e a crescente curiosidade dos consumidores, a Noruega está a posicionar-se como um novo polo de inovação e qualidade na produção de vinho.

Gato sobrevive 25 dias trancado num contentor de mudanças

Mudanças são sinónimo de stress. Caixas por todo o lado e muitas horas em arrumações. O plano foi feito com cuidado, mas não evitou a surpresa quando se abriu a porta do contentor.

Chuck e Connie Moore viveram uma vida no Oregon, nos Estados Unidos. A decisão de mudar de casa e de Estado não foi fácil e foi planeada durante meses. Oklahoma seria a nova casa do casal norte-americano, a três mil quilómetros das memórias, dos amigos e dos vizinhos de muitos anos. A viagem aconteceu sem incidentes e a mobília chegou 25 dias depois. Ao abrir a porta do contentor, Chuck Moore percebeu que alguma coisa estava errada.

"Notei logo que havia sinais numa das caixas, parecia xixi de gato."

Chuck e Connie Moore recordaram-se imediatamente de uma mensagem que os vizinhos lhes tinham enviado dias depois da partida. O gato Milo estava desaparecido. O pior cenário parecia inevitável.

"Achei que ia encontrar os restos mortais do Milo, depois de três semanas e meia fechado no contentor."

Chuck procurou entre as caixas e quando chegou à parte da frente do contentor, viu o gato assustado mas com vida.

"Estamos muito agradecidos por ele estar vivo."

Após uma visita ao veterinário, Milo revelou-se apenas ligeiramente desidratado. Já recuperado, vai regressar a casa, desta vez numa viagem de avião.

"As capivaras estavam aqui primeiro": invasão de bairro de luxo provoca polémica na Argentina

O maior roedor do mundo está no centro de uma polémica que está a agitar a Argentina. As capivaras, conhecidas pelo seu ar simpático e tranquilo, tornaram-se presença constante em Nordelta, um bairro de luxo nos arredores de Buenos Aires e nem todos estão contentes.

Nordelta é sinónimo de exclusividade. Cercado por muros altos e jardins impecáveis, o bairro nos arredores de Buenos Aires foi construído sobre zonas húmidas, o habitat natural das capivaras. Sem predadores e com relvados a perder de vista, os animais multiplicaram-se: de uma dúzia passaram a mais de mil, segundo a associação de moradores.

"O número de capivaras cresce 100% ao ano."

As capivaras deixam fezes por todo o lado, invadem jardins, entram em casas e já atacaram cães.

"Feriram dois dos meus cães. Antes de passear o meu poodle, percorro sempre a zona para as afastar."

As capivaras também têm causado acidentes nas estradas do bairro e por isso os moradores propõem um plano de esterilização para travar o crescimento. A proposta já levou a uma onda de protestos. O grupo ativista "A Voz da Capivara" defende que os homens é que invadiram o território dos animais.

"Não há mais capivaras, o que há é menos espaço para elas. O habitat destes animais está a ser destruído."

O veterinário Carlos Alberto Baanmonde também defende as capivaras.

"Estes projectos de construção perturbam completamente os pântanos e os ecossistemas locais. As capivaras estavam aqui primeiro."

A polémica já chegou ao governo da Argentina. A ministra do Ambiente sugeriu transferir os animais para uma ilha. Mas os ativistas também rejeitaram esta ideia.

"Devemos proteger os animais, não interferir com eles. Isso faz-se com mais espaços verdes e corredores naturais.

Alheias à polémica, as capivaras continuam a passear pelos jardins de Nordelta, agora símbolo de um conflito entre urbanização e natureza.

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