Saúde e Bem-estar

Nova imunoterapia com origem portuguesa testada nos EUA

Foco são doentes com leucemia mieloide aguda.

Nova imunoterapia com origem portuguesa testada nos EUA
Andrew Brookes

Uma nova imunoterapia com origem portuguesa está a ser testada nos Estados Unidos em doentes com leucemia mieloide aguda, o cancro do sangue mais agressivo, anunciou hoje o Instituto de Medicina Molecular (IMM) de Lisboa.

A terapia - que está a ser testada em 28 doentes adultos "previamente tratados com quimioterapia, mas que ainda apresentam células tumorais no seu sangue" - usa um tipo de células imunitárias, as "Delta One T (DOT) cells", identificadas e caracterizadas pela equipa do imunologista Bruno Silva-Santos, investigador do IMM e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL).

O ensaio clínico de fase 1, destinado a avaliar a segurança e a tolerância deste novo tratamento celular para o cancro, é promovido pela empresa de biotecnologia britânica GammaDelta Therapeutics, que em 2018 comprou a Lymphact, criada em 2013 a partir do IMM e que realizou os ensaios pré-clínicos.

O financiamento dos testes com doentes, para os quais se esperam os primeiros resultados em dezembro de 2023, é assegurado pela farmacêutica japonesa Takeda.

Depois de comprovada a segurança e tolerância da terapêutica, com doses progressivamente mais elevadas, será testada a sua eficácia com um número mais alargado de doentes em ensaios subsequentes.

À Lusa, Bruno Silva-Santos, que dirige o laboratório de Imunobiologia e Imunoncologia do IMM, instituto onde é vice-diretor, explicou que a terapia com "DOT cells" utiliza células imunitárias (um tipo de células T ou linfócitos T) de dadores saudáveis para matar células imunitárias que são cancerígenas.

"Um dos grandes atrativos de usar este tipo de célula imunitária [DOT cell] (...) é poder produzi-las a partir de dadores saudáveis, criando 'bancos de células' para tratar muitos doentes geneticamente diferentes, ambicionando uma imunoterapia celular 'universal'", adianta o IMM em comunicado.

Justificando as potencialidades da nova terapêutica, Bruno Silva-Santos disse que a quimioterapia "não tem um efeito curativo tão bom" quanto o desejado para tratar a leucemia mieloide aguda, o "cancro do sangue derivado dos glóbulos brancos [células do sistema imunitário] mais comum e mortal" entre adultos.

"Apesar de alguns avanços no seu tratamento, a leucemia mieloide aguda continua a ser o tipo de cancro do sangue com pior prognóstico para os doentes, com uma taxa média de sobrevivência aos 5 anos de apenas 25%", reforça o IMM em comunicado.

Em laboratório, a equipa do imunologista Bruno Silva-Santos identificou as "DOT cells", isolou-as no sangue e descobriu como expandi-las para administrá-las como terapia celular, tendo as células se revelado "eficazes a eliminar o tumor" em ensaios pré-clínicos, com modelos animais.

De acordo com o IMM, a investigação dos cientistas do instituto e da FMUL "demonstrou que, a partir de uma amostra de sangue de dadores saudáveis, era possível produzir biliões de 'DOT cells' com grande capacidade de destruir células tumorais de várias origens", incluindo as que provocam a leucemia mieloide aguda.

Nesta doença, as células mieloides transformam-se, normalmente, num tipo de glóbulo branco imaturo denominado mieloblasto ou blasto mieloide. Os mieloblastos são anormais e não se transformam em glóbulos brancos saudáveis (com capacidade no caso de defender o organismo de células tumorais).

Apesar de não ter uma participação direta no ensaio clínico a decorrer nos Estados Unidos, o Instituto de Medicina Molecular colabora com a empresa GammaDelta Therapeutics no processo e em estudos sobre as "DOT cells".

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