Saúde e Bem-estar

Síndrome da fadiga crónica: a doença invisível aos olhos de quem não a sente

Sente um cansaço persistente? Saiba que pode sofrer da síndrome da fadiga crónica. A SIC Notícias falou com o reumatologista Jaime Branco, que aponta “falta de objetividade” no diagnóstico de uma doença que, para metade dos pacientes, chega a ser incapacitante.

Mulher com dores nas costas
Mulher com dores nas costas
Canva

“Uma fadiga que não recupera com o repouso e que aumenta significativamente com o exercício”. É assim que é caracterizada, de um modo geral, a Encefalomielite Miálgica (EM), também conhecida como Síndrome de Fadiga Crónica (SFC).

A acompanhar esta fadiga, podem surgir outros sintomas, nomeadamente alterações no sono, dores musculosqueléticas, alterações cognitivas (por exemplo, a nível da concentração, atenção e memória) e tonturas, adianta à SIC Notícias o reumatologista Jaime Branco.

Diagnóstico: “Ainda há falta de objetividade”

“Não sabemos muito bem qual é a sua etiologia e sobretudo a sua fisiopatologia. O quadro clínico é caracterizado pelos sintomas da doença e não encontramos com facilidade sinais”, afirma o médico especialista.

Em declarações à SIC Notícias, lamenta que não exista qualquer exame complementar de diagnóstico para a doença.

“Os doentes fazem análises e exames e os resultados são normais”, afirma.

Jaime Branco explica que, na maior parte das vezes, o diagnóstico é feito por eliminação de outras situações.

“A verdade é que os doentes sofrem e são incompreendidos exatamente por falta desta objetividade”, revela.

Canva

Rótulo do “doente depressivo e ansioso”

Muitos doentes passam a maior do tempo com diagnósticos diferentes daquilo que têm e, como não são tratados de forma adequada, “acabam por não melhorar, ou então até chegam a ser rotulados como doentes depressivos, ansiosos ou angustiados”. Mas a verdade é que para metade dos doentes, a Encefalomielite Miálgica chega a ser incapacitante.

As causas da doença são ainda desconhecidas, mas sabe-se que, para muitos dos doentes, começa por manifestar-se através de sintomas semelhantes aos de uma gripe.

Em média, a doença afeta cerca de três vezes mais mulheres do que homens e pode aparecer em dois momentos da vida adulta, “por volta dos 20 anos e depois um pouco mais tarde, por volta dos 40 anos”, indica Jaime Branco.

Tratamento

A Encefalomielite Miálgica não tem cura e, até aos dias de hoje, não existe qualquer “tratamento completamente adequado”.

O reumatologista Jaime Branco começa por explicar à SIC Notícias que "existem são várias abordagens possíveis, que são dirigidas sobretudo aos sintomas porque os doentes não aparecem todos da mesma maneira. O quadro clínico varia de doente para doente”.

“Temos disponíveis terapêuticas farmacológicas, analgésicos, antidepressivos, terapêuticas direcionadas para a fadiga, que não são muitas, e muitas vezes são insuficientes ou ineficazes”, conclui.

Campanha “Estou Bem”

Esta sexta-feira, assinala-se o Dia Mundial da Encefalomielite Miálgica. Para assinalar a data, a Myos - Associação Nacional Contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica - lançou a campanha “Estou Bem”, que tem como objetivo a consciencialização da população para o estigma associado à doença.

Em comunicado, a Myos informa que a campanha “pretende comunicar a invisibilidade da Encefalomielite Miálgica/Síndrome da Fadiga Crónica (EM/SFC), enquanto alerta a população de que, apesar de uma pessoa "parecer bem", pode estar a vivenciar um conjunto de sintomas geralmente mal compreendidos”.