Saúde e Bem-estar

Entrevista SIC Notícias

Cancro da mama triplo negativo: maioria considera inaceitável a espera pela aprovação de fármacos

Um estudo da associação Evita avalia o conhecimento dos portugueses sobre o cancro da mama triplo negativo. Tamara Milagre, presidente da Evita, dá conta de detalhes sobre o estudo e sobre os objetivos e prioridades da associação.

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A Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário (Evita) divulga esta quarta-feira dados sobre a perceção, ou seja, sobre o que os portugueses entendem relativamente ao cancro da mama triplo negativo. Em entrevista na SIC Notícias, a presidente Evita, Tamara Milagre, dá conta de alguns detalhes sobre o estudo e sobre os objetivos e prioridades da associação.

Este estudo da Evita baseou-se em 800 inquéritos, uma amostra considerada representativa da população portuguesa, acima dos 25 anos.

A maioria dos inquiridos desconhece a complexidade do acesso e disponibilização de novos medicamentos e 79,3% considera inaceitável que os doentes tenham de esperar muito tempo pela decisão de aprovação de fármacos.

A Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) anunciou, esta terça-feira, a autorização para o uso do medicamento pembrolizumab no cancro da mama triplo negativo metastático, reivindicado por doentes.

É uma medida muito aguardada, mas que ainda assim fica longe do desejado porque “acontece no âmbito de um programa de acesso precoce que normalmente se refere a um número limitado de doentes”, explica Tamara Milagre.

A presidente da Evita que Portugal regista um atraso de quase um ano relativamente à média europeia, no que diz respeito à avaliação de tecnologias em saúde, o que tem influenciado bastante a eficácia do tratamento deste tipo de cancro.

"O cancro da mama triplo negativo é um dos subtipo do cancro da mama mais complicados, surge muitas vezes em mulheres jovens. Aliás, o estudo que fizemos foi precisamente porque 80% dos tumores na mama em portadoras de mutação BRCA são triplo negativos".

Segundo o estudo realizado pela Evita, apenas 13% dos inquiridos têm conhecimento desta tipologia de cancro.

“A população no geral só se educa relativamente a uma patologia quando é pessoalmente afetada”, refere Tamara Milagre, que realça a importância de ir além da quimioterapia: "Agora já temos abordagens inovadoras que precisamos de ter disponíveis o quanto antes porque as pessoas estão a morrer".


Fica do lado do Infarmed “concluir o processo para autorização do financiamento da droga”, conclui.

Papel da Evita

A Evita é uma associação que aposta da prevenção, sensibilização e acompanhamento dos doentes. Cerca de 15% dos cancros da mama são triplo negativo, que afeta mulheres muito jovens.

“Somos um elo de ligação entre os vários atores em saúde, estamos no terreno, convivemos e falamos com estas mulheres em causa, sabemos em que se traduz o atraso no acesso (ao medicamento)”.

“Quando uma mulher jovem se torna doente crónica e morre décadas antes do suposto, isto custa muito caro para o sistema, para não falar do drama familiar que isso gera, isso é o que nos preocupa mais”.