Um dia não são dias, mas muitos podem estragar objetivos quando o que se procura é uma vida mais saudável. Este é, no fundo, o grande problema associado à quadra natalícia no que diz respeito à luta contra o excesso de peso. O que ‘estraga’ os resultados de uma rotina regrada não é a consoada, mas tudo o que lhe antecede e lhe segue, lembra a nutricionista Liliana Natário.
“A questão é que, normalmente, não estamos a falar de dois ou três dias de aumento das calorias ingeridas. As pessoas começam a festejar esta quadra logo nos finais de novembro, com os jantares e almoços de Natal. Há estudos que mostram que há um aumento de peso nesta época, e muito por esse motivo”, sublinha a especialista em saúde digestiva e nutrição funcional, aconselhando a que, nos dias seguintes às celebrações, as pessoas procurem “levantar-se dos sofás, fazer caminhadas, não ficarem focadas calorias ingeridas e não andar os dias seguintes a consumir as sobras”.
Por esta altura, muito se fala também sobre possíveis trocas, supostamente mais saudáveis. Substitutos para o açúcar e outros tantos elementos tão presentes à mesa portuguesa. Mas, será que faz sentido alterar receitas?
“A meu ver, alterar receitas não faz muito sentido. Natal é tudo isto, visitar os familiares, saborear pratos que são uma tradição na família. Por exemplo, nesta altura adoro comer a aletria da minha avó e não vou estar a alterar uma receita e um sabor que estão muito associados, para mim, à família e ao amor. Posso comer na mesma e reduzo as calorias pela quantidade”, conta a nutricionista.
Por vezes, com estas trocas pode criar-se uma ilusão de que, com elas, é possível comer uma maior quantidade de um qualquer prato. Podem, assim, “acabar por ingerir tantas ou mais calorias e não tiveram o prazer de saborear algo de que gostam muito”.
Daqui, surge uma regra que pode valer um Natal mais saboroso, sem tantas consequências.
"Podemos comer de tudo, mas não comer tudo"
Para a nutricionista Liliana Natário, é importante ter presente que “podemos comer de tudo, mas não comer tudo” durante a quadra natalícia.
“É uma questão de educação alimentar para fazer as melhores escolhas. Por exemplo, no caso do azeite. Não ultrapassar uma colher de sopa de azeite no prato, em vez de mergulhar o bacalhau nele, já faz a diferença. O azeite não deixa de ser uma gordura”, afirma.
Nas sobremesas, o mesmo princípio: “Podem experimentar comer meia fatia de bolo-rei, em vez de uma inteira. Um sonho, em vez de três. Como já disse, podemos comer de tudo no nosso Natal, mas não temos de comer tudo”.
Até porque isso pode ter consequências.
“Depois dizem que não dormiram bem, que estão maldispostos, com aquela sensação de enfartamento”, alerta a nutricionista.
Os truques para compensar uma mesa recheada
Ao “fiel amigo”, depois de se moderar o uso do azeite, devem ser acrescentados os ajudantes “da saciedade e da absorção de gordura”.
“Colocar couves, grelos ou outros legumes no prato faz a diferença. Temos mais saciedade e a absorção de gordura vai ser reduzida pela presença de fibra na refeição”, recomenda Liliana Natário.
A fruta da época - a romã, o ananás, etc. - podem acompanhar a entrada em cena das sobremesas. E, na hora do brinde, tenha sempre um copo de água à mão.
“É natural que se ingira bebidas alcoólicas, mas podemos sempre acompanhá-as com um copo de água. Vai perceber que bebe menos se intercalar cada copo de álcool com um de água, reduzindo assim o valor calórico ingerido”, partilha a especialista, que lembra que “o mais importante é não entrar em dietas ‘malucas’".
Neste leque de dietas entram todas as que “são muito restritivas, à base de líquidos ou com jejuns prolongados sem o devido acompanhamento”.
“O jejum tem benefícios, mas a pessoa que o faz tem de ser acompanhada e este não pode ser feito por toda a gente. Pode correr muito mal”, avisa, lembrando um caso em que, em consulta, lhe pediram para “ensinar a fazer o jejum de 24 horas para perder três quilos, porque no Natal aumentava sempre esse peso".
Ficou fora de questão, recorda Liliana Natário, mas a pessoa acabou por voltar a procurá-la. Desta vez, para ser devidamente acompanhada na luta contra o excesso de peso, mostrando que “começou a mudar a mentalidade”.