O Hospital de São João, no Porto, realizou um transplante renal com dadores vivos incompatíveis, utilizando uma nova técnica que tem menos riscos. Assim, permite também reduzir a lista de espera de seis anos, o que obriga os doentes a fazerem hemodiálise prolongada.
Ana Augusto era insuficiente renal há 30 anos. A medicação controlava a doença, mas chegou o dia em que teve de fazer hemodiálise e entrar para a lista de transplante. O marido não hesitou em inscrever-se como dador, mas, dada a incompatibilidade sanguínea, não contava doar o rim diretamente à mulher.
"Fui confrontado com uma chamada telefónica da minha esposa a dizer que a doutora lhe tinha dita que o meu rim ia ser doado diretamente a ela. Fiquei feliz", recordou, em entrevista à SIC Notícias, Afonso Augusto.
No São João, protagonizaram juntos o primeiro transplante com dador vivo ABO incompatível através de uma técnica que filtra os anticorpos do sangue. O tratamento foi feito durante cinco dias antes da cirurgia.
"Este tipo de técnica é muito segura e bem tolerada e inclusivamente tem o benefício de o poder ser feita enquanto o doente faz hemodiálise", explicou a nefrologista do Hospital de São João, Ana Cerqueira.
Em média, um doente renal crónico com o tipo de sangue O espera seis anos por um transplante de dador falecido. Atualmente, há 1.821 doentes em Portugal à espera de um rim. Perto de 500 são seguidos no São João.
A cirurgia chegou a estar marcada para o dia 14 de fevereiro, uma data simbólica que Ana e Afonso imortalizaram numa fotografia abraçados. O transplante acabaria por acontecer só no dia seguinte, com um final feliz.