Saúde e Bem-estar

Dia Mundial do Alzheimer: ainda longe da cura, os novos tratamentos que levantam dúvidas e esperança

Assinala-se este domingo o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência, que afeta dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Dia Mundial do Alzheimer: ainda longe da cura, os novos tratamentos que levantam dúvidas e esperança
GSO Images

A investigação sobre a doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência com dezenas de milhões de doentes em todo o mundo avança, sobretudo no diagnóstico, mas ainda não há cura para a doença. Os novos medicamentos mostram benefícios modestos e riscos sérios, enquanto exames de sangue prometem revolucionar a deteção precoce. Na prevenção, hábitos saudáveis parecem ter algum efeito, mas as provas continuam limitadas.

Após décadas de insucesso na investigação, dois medicamentos abriram um novo capítulo: o Kisunla (donanemab), da Eli Lilly, e o Leqembi (lecanemab), da Biogen e Eisai. São os primeiros a mostrar efeitos na redução dos sintomas da doença.

Mas os resultados só foram observados em doentes em fases iniciais da doença e de forma modesta. Além disso, ambos podem causar efeitos secundários graves, como hemorragias cerebrais.

Pelo mundo, autoridades nacionais de saúde e associações têm posições bem diferentes sobre os tratamentos. No Reino Unido, associações pressionam para a aprovação rápida dos fármacos. Em França, a posição é mais cautelosa. A France Alzheimer reconhece inovação, mas alerta para “limitações intrínsecas”.

Em Portugal, a associação Alzheimer Portugal sublinha que os medicamentos destinam-se apenas a casos ligeiros e exigem vigilância rigorosa. A decisão cabe agora ao Infarmed.

"Todavia, esta aprovação é condicionada a formas ligeiras da doença e a estritas condições de seleção dos doentes que podem usar o medicamento. Trata-se de um fármaco que, em ensaios clínicos, demonstrou capacidade de evidenciar discretas melhoras, mas com efeitos colaterais que obrigam a uma vigilância próxima dos doentes. Agora, será necessário aguardar a análise e parecer das agências dos diferentes países, e no caso de Portugal, do Infarmed", lê-se no site.

Como é feito o diagnóstico?

Outro debate diz respeito ao diagnóstico precoce, com uma crescente divisão entre a Europa e os Estados Unidos.

A grande novidade é a possibilidade de detetar a doença com um simples exame de sangue, que identifica biomarcadores associados às alterações cerebrais.

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Nos Estados Unidos, o primeiro teste sanguíneo foi aprovado em maio deste ano. Na Europa ainda não, mas o Reino Unido lançou no início de setembro um ensaio clínico em larga escala, pela Alzheimer Society.

Alzheimer’s Association, nos EUA, considera os biomarcadores suficientes para o diagnóstico desde 2024. Na Europa, especialistas defendem que continuam a ser necessários exames clínicos completos. Em declarações à AFP, o neurologista holandês Edo Richard salientou que muitos indivíduos com biomarcadores alterados nunca desenvolvem demência.

Prevenção: hábitos saudáveis ajudam, mas pouco

Existe consenso de que fatores como hipertensão, tabagismo, obesidade ou perda auditiva aumentam o risco de demência. Segundo uma revisão publicada em 2024 na revista The Lancet, quase metade dos casos de Alzheimer está associada a fatores identificáveis.

Ainda assim, os ensaios clínicos que testaram programas de exercício físico e dietas saudáveis mostraram efeitos reduzidos. O estudo mais recente, publicado na JAMA este verão, concluiu que dois anos de apoio intensivo atrasaram apenas ligeiramente o declínio cognitivo.

Para alguns especialistas, como a epidemiologista francesa Cécilia Samieri, citada pela AFP, mesmo um efeito modesto já é importante. Mas só estudos de longa duração - de 10 a 15 anos - poderão dar respostas sólidas.

O que é a doença de Alzheimer?

doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, que resulta numa perda lenta e progressiva de memória, pensamento e capacidade de aprender. Os sintomas incluem desorientação, alterações de personalidade e dificuldades em tomar decisões.

No cérebro, a doença começa com a acumulação da proteína beta-amiloide, seguida da formação de emaranhados da proteína  Tau, tóxicos para os neurónios.

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