“Aquilo que o doente com cancro mais deseja é voltar à rotina, ao trabalho”

Ana Brigida
O auditório da Fundação Champalimaud abriu as portas ao terceiro debate “Tenho Cancro. E depois?” - projeto SIC Notícias e do Expresso, com o apoio da Novartis, da Médis e a colaboração da Liga Portuguesa Contra o Cancro e da Sociedade Portuguesa de Oncologia - numa sessão que ficou marcada pelos testemunhos de doentes e sobreviventes que, juntamente com os especialistas, identificaram os principais desafios do doente oncológico em Portugal, após o diagnóstico, durante o tratamento, e depois de ultrapassada a doença.
Dalila Carvalho, sobrevivente de cancro de mama, e uma das oradoras que esteve presente no debate, contou à plateia que começou a trabalhar aos dezasseis anos na rádio e, desde então, nunca quis abrandar o ritmo. “A primeira vez que entrei de baixa foi aos 44 anos, quando descobri que tinha cancro de mama”, conta. Na altura, a professora universitária e empregada numa instituição bancária viu-se obrigada a despedir-se das suas funções, pois nunca conseguiu que a empresa onde estava, apesar de se mostrar compreensiva, a deixasse trabalhar a partir de casa. A falta de memória, o cansaço e desregulação hormonal não lhe permitiram continuar. “Aquilo que o doente com cancro mais deseja é voltar à rotina, ao trabalho”, confessa.
Cristina Alves, professora de Geometria Descritiva, que teve cancro de pulmão, também contou a sua história. Fez quimioterapia e radioterapia, chegou aos 42 quilos mas, aos nove meses de baixa, decidiu que tinha que voltar ao trabalho. O cancro desapareceu, mas a falta de memória e o cansaço predominaram e continuaram a afetar a sua produtividade. “Ainda hoje sinto as sequelas”, garante. A professora, a trabalhar a tempo inteiro com horário completo, chegou mesmo a apresentar uma petição na Assembleia da República, levada ao Parlamento em 2019, a favor do justo tempo de serviço do sobrevivente oncológico.
Vítor Neves, Presidente da Europacolon Portugal, assumiu que é preciso “estudar” a forma como se lida com o doente de maneira a prepará-lo para a nova realidade que enfrenta, tanto durante os tratamentos, como após as terapêuticas. “Além da doença oncológica em si, o doente tem que lidar com alterações físicas permanentes que afetam o próprio e os outros que o rodeiam. Muitos ficam traumatizados e deixam de viver”, revela. Para ajudar estas pessoas, a Europacolon Portugal tem um linha de apoio sempre disponível. “Eu acho que Portugal tem que se focar não só nos doentes, mas também nos sobreviventes.”

Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud e ex-ministra da Saúde, fez o discurso que deu início à sessão
Dever de informar
Para Fátima Cardoso, Diretora da Unidade de Mama do Centro Clínica da Fundação Champalimaud, “não faz sentido que após um diagnóstico de cancro, a pessoa tenha que deixar de trabalhar.” Segundo a própria, “tratar o cancro é caro, mas a falta de produtividade desses cidadãos (doentes e cuidadores) acaba por sair ainda mais cara ao Estado”, sublinhou. Quanto ao atestado multiusos, estatuto ao qual todos os doentes oncológicos têm direito, a especialista defendeu que “não lhe parece adequado que esteja estipulado que todos os doentes tenham 60% de incapacidade, pois cada caso é um caso.”
Graça Freitas, diretora-geral de saúde, assumiu que “quando o atestado multiusos é atribuído ao doente oncológico, nunca é inferior a 60% de incapacidade.” No entanto, esse atestado tem uma validade de cinco a sete anos e tem que ser reavaliado ao fim desse período, mesmo que o doente tenha uma doença metastática. Para a diretora-geral de saúde, os médicos têm como dever informar o doente do direito à obtenção do atestado multiusos. “Há pessoas que se dirigem às juntas médicas - que estão doentes há anos e que não têm o atestado - porque ninguém os informou”, confessa.
O debate contou ainda com a presença de Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud e ex-ministra da Saúde, Tiago Pinto da Costa, responsável pelo grupo dos Barnabés Sul, Sandra Lucas, doente com cancro da mama, Vítor Rodrigues, presidente Liga Portuguesa Contra o Cancro, Berta Sousa, da Unidade de Mama da Fundação Champalimaud, Filipe Marques de Carvalho, advogado e jurista na Associação Mamahelp, e Eduardo Consiglieri Pedroso, CEO da Médis.
Textos originalmente publicados no Expresso online no dia 25 de outubro.
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