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Portugal: sobreviventes de cancro aumentam e precisam de cuidados

São cerca de 500 mil sobreviventes, segundo os dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). Saber reintegrá-los na sociedade, na família e no trabalho é um desafio permanente.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Centro, organizou uma mesa redonda (26 de janeiro) - que juntou diversos especialistas na área - para uma discussão cujo objetivo foi o de expor os dados mais recentes sobre os sobreviventes de cancro, o contexto que está por detrás desta realidade e os principais desafios que esta franja de população portuguesa (cerca de 500 mil) atravessa no seu dia-a-dia.

Jorge Espírito Santo, médico oncologista e também ele sobrevivente de cancro, Carla Barbosa, jurista da Unidade de Apoio Jurídica da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Jorge Alves Custódio, presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra e Marta Temido, ex-ministra da saúde, foram os oradores convidados que, juntamente com Vítor Rodrigues, presidente da Direção Regional do Centro da LPCC, participaram na conversa moderada pelo jornalista Linho Vinhal.

12 milhões

é o número de sobreviventes de cancro que existem em toda a Europa, dos quais 300 mil foram diagnosticados na infância

Devido ao diagnóstico precoce e à melhoria das terapêuticas, aliado ao facto das pessoas viverem cada vez mais anos, os casos de cancro aumentam, mas também aumentam os sobreviventes (estima-se que até 2040 se registe um aumento entre 30 a 40% de pessoas com esta condição). É portanto urgente olhar para esta situação de forma a que a sociedade - das empresas, às instituições hospitalares, passando pelo próprio Estado - saiba responder às inúmeras necessidades de quem se cura de uma doença oncológica.

Conheça as principais conclusões da sessão:

  • Na Europa verifica-se que a mortalidade por cancro baixa, mas que a incidência aumenta, sendo esta a primeira causa de morte prematura no país;
  • A Europa tem um décimo da população mundial, mas regista um quarto de todos os casos de cancro diagnosticado no mundo;
  • Há muitos sobreviventes de cancro que vivem com incapacidades permanentes que derivam da doença, que derivam do tratamento ou que derivam de ambos. Os sobreviventes têm, assim, um conjunto de necessidades em saúde “não satisfeitas devidas às múltiplas dificuldades que irão sofrer durante a vida”, refere Jorge Espírito Santo;
  • Fadiga, perdas cognitivas, Infertilidade, cardiotoxicidades, depressão e aparecimento de segundas neoplasias são apenas alguns exemplos de sequelas - muitas vezes crónicas - que poderão surgir após os tratamentos de quimioterapia e radioterapia;
  • Mesmo que a imunoterapia pareça inócua, “não o é”, explica Jorge Espírito Santo. 52% dos sobreviventes tratados com imunoterapia desenvolvem algum grau de efeitos adversos, sendo que 23% relatam efeitos a longo prazo. Pneumonite, artrite, dermatite, disfunção cognitiva são apenas alguns exemplos;
  • A estratégia nacional de combate ao cancro incluiu, inclusive, como um dos seus pilares, os sobreviventes. Prevenção, deteção precoce, diagnóstico e tratamento são os outros três pilares em que a estratégia está assente;
  • Todos os sobreviventes de cancro querem “voltar ao trabalho”, mas nem todos conseguem, explica a jurista Carla Barbosa;
  • A maioria dos sobrevivente de cancro consegue permanecer ou regressar ao trabalho, mas em termos globais, enfrentam um risco de desemprego 1,4 vezes superior ao da população em geral;
  • Segundo a lei do trabalho, o doente oncológico tem direito a não ter que fazer horas suplementares; direito a não ter que prestar trabalho dentro de determinadas horas se não trabalhar por turnos, entre outros parâmetros. O empregador obriga-se aqui a proporcionar ao trabalhador as condições de melhoria do seu posto de trabalho para que este regresse à sua atividade laboral. “Mas isto é tudo muito difícil porque, muitas vezes, o interesse do trabalhador e da entidade patronal não são coincidentes”, diz Carla Barbosa;
A Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Centro dinamizou a sessão “Sobreviventes de Cancro”, na Subunidade 3 - Pólo Ciências Saúde - FMUC –, em Coimbra

A Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Centro dinamizou a sessão “Sobreviventes de Cancro”, na Subunidade 3 - Pólo Ciências Saúde - FMUC –, em Coimbra

  • “É necessário criar medidas de proteção e flexibilização das leis laborais para uma plena integração no mercado de trabalho da pessoa com cancro”, defende Carla Barbosa;
  • Segundo a lei do esquecimento, aprovada em 2021, os doentes oncológicos têm direito a que se apague do seu historial, o facto de terem ultrapassado um cancro. Não obstante, os sobreviventes relatam que, na maioria das vezes, não conseguem contrair seguros de vida para, por exemplo, comprar uma casa;
  • Possibilidade de regresso progressivo ao trabalho e prever subsídios que permitam colmatar a perda de rendimento por redução de horário de trabalho, são algumas das meninas que poderiam ser tomadas;
  • Marta Temido centrou a sua apresentação na nova lei aprovada na Assembleia da República que alarga o estatuto do cuidador informal a pessoas que não tenham laços familiares com a pessoa cuidada. No entanto, a ex-ministra da Saúde admite que ainda “existe um longo caminho a percorrer”;
  • Em Portugal, estima-se que cerca de 1.1 milhão de pessoas preste cuidados informais a familiares ou outras pessoas. Só 16 mil tem este estatuto e 5 mil e 200 recebem subsídio financeiro. Muitos destes cuidadores informais acompanham pessoas com cancro;
  • A longevidade é um dos desafios da nossa sociedade, mas apesar da esperança média de vida ter evoluído muito em Portugal, os anos de vida saudável ainda estão muito abaixo da média quando somos comparados com outros países.

Veja ou reveja AQUI a sessão na íntegra.

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