Cancro: é preciso desconstruir mitos, aumentar a literacia e apostar em inovação

O primeiro painel de debate - sobre o cancro da próstata - juntou três especialistas numa discussão que girou em torno da inovação aplicada a esta neoplasia. Na imagem (da esquerda para a direita) está Sara Taínha, jornalista da SIC Notícias, Gabriela Sousa, diretora de Serviço de Oncologia IPO Coimbra, Liliana Violante, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Nuclear (SPMN) e Rodrigo Ramos, diretor do Serviço de Urologia do IPO Lisboa
José Fernandes
O Tenho Cancro. E depois?, reuniu - no mais recente Vamos Falar? - cinco especialistas e uma doente de cancro do pulmão para debater as questões mais prementes associadas a cada uma das três doenças.
Gabriela Sousa, diretora de Serviço de Oncologia IPO Coimbra, Liliana Violante, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Nuclear (SPMN) e Rodrigo Ramos, diretor do Serviço de Urologia do IPO Lisboa integraram o primeiro painel que se focou nas inovações no tratamento do cancro da próstata.
Fernanda Estevinho, médica oncologista e membro da direção da Pulmonale e Lurdes Bessa, doente com cancro do pulmão, foram as protagonistas do segundo momento da sessão, que incidiu na estratégia para diminuir a incidência do cancro de pulmão, em Portugal, nomeadamente através da cessação tabágica e rastreios.
Por último, a diretora da Unidade de Dermatologia da Fundação Champalimaud, Daniela Cunha, subiu ao platô da Impresa para falar sobre o melanoma, os seus fatores de risco, o diagnóstico, os tratamentos e cuidados a ter em especial no período de Verão para evitar o aparecimento desta neoplasia maligna.
Conheça, abaixo, as principais conclusões da sessão:
Próstata
- O cancro da próstata é a segunda maior causa de morte por cancro nos homens acima dos 50 anos. Em média, 1 em cada 6 homens será diagnosticado com cancro da próstata. Tendo em conta os números, o grande desafio é fazer um diagnóstico precoce e saber selecionar os doentes que estão em maior risco;
- “O cancro da próstata ainda é muito associado ao envelhecimento da glândula", daí aparecer em pessoas mais velhas, explica Gabriela Sousa. Para a diretora de Serviço de Oncologia IPO Coimbra o grande desafio é aproveitar a era da medicina de precisão, não só para aumentar o conhecimento sobre o doente, mas para aprender a fazer uma melhor seleção doentes que podem ser tratados;
- Esta última ideia é partilhada por Rodrigo Ramos, diretor do Serviço de Urologia do IPO Lisboa, ao considerar que a inteligência artificial “é incontornável”, pois trará a inovação necessária - a vários níveis - mas com destaque para a criação de sistemas de informação e de apoio que sustentem as decisões e ajudem os especialistas a referenciarem os doentes mais rapidamente;
- Liliana Violante, vice-presidente da SPMN pôs a tónica nos avanços que a medicina nuclear tem aportado não só ao dignóstico do cancro da próstata como, mais recentemente, ao seu tratamento. “São terapeuticas menos invasivas e com poucos efeitos secundários”, explica a especialista. O grande desafio identificado pela própria é o de desenvolver novos radiofármacos, para destruírem e atacarem seletivamente a doença e a capacitação das equipas, sendo que é necessária uma formação “altamente diferenciada”;
80%
dos homens, aos 80 anos, terão algum tipo de tumor na próstata



- Dado ao elevado número de doentes e escassez de recursos humanos, uma mistura explosiva com a qual o SNS tem vindo a aprender a lidar, os especialistas parecem estar de acordo que o momento em que se deve apostar mais é onde tudo começa e no momento em que os doentes sofrem menos: o diagnóstico. sendo que “os nossos alicerces fortes são os médicos de família”, lembra Rodrigo Ramos;
- A questão da saúde mental e do acompanhamento psicológico aos doentes também foi abordada. “Receber a notícia de que se tem cancro tem um impacto avassalador para o doente e para as famílias", garante Liliana Violante. Para amenizar o caminho, é importante que o doente saiba qual é plano que existe para ele e, por último, que veja o seu médico como “um aliado”.
Saiba mais sobre o cancro da próstata AQUI.
Pulmão
- O cancro do pulmão é o segundo cancro mais comum no homem e o quarto mais comum na mulher;
- Para certos cancros, o rastreio é uma arma poderosa de diagnóstico. O cancro do pulmão não foge a esta evidência;
- Para Fernanda Estevinho, médica oncologista e membro da direção da Pulmonale, a estratégia passa por apostar na literacia da população. “Temos que tentar que os nossos jovens não comecem a fumar e temos que apostar na cessação tabágica”, diz;
- A verdade é que o tabaco é o maior fator de risco para o aparecimento de cancro, mas mesmo que isso seja um dado adquirido, e mesmo que se saiba que 80% das mortes por cancro do pulmão podem ser evitadas se se eliminasse este fator de risco, “não estamos a conseguir” travar o consumo;
20%
da mortalidade para este cancro é reduzida com a introdução de rastreio. Se os doentes forem diagnosticados numa fase inicial, com tumores pequenos, a sobrevivência ronda os 92%


- Tosse, falta de ar, sangue quando se tosse, dor ao respirar na zona do ombro, dor óssea, alteração do estado de consciência pela metastização cerebral, cansaço, entre outros, são alguns dos sintomas que o doente pode apresentar e aos quais deve estar atento;
- Podem ainda existir outros sintomas menos específicos - como a dor de cabeça prolongada. Foi esse o sintoma que levou Lurdes Bessa, doente de cancro do pulmão, ao hospital. A doente refere que é importante confiar no caminho que o médico traça para cada um. “Eu vivo a vida e cumpro as ordens”, explica;
- Mesmo tendo passado por momentos duros que puseram à prova a sua resiliência, Lurdes Bessa garante que continua a fazer tudo o que fazia antes e que a doença até lhe permitiu viver a vida “com mais intensidade”;
- Nenhuma forma de tabaco é segura, nem mesmo as versões mais contemporâneas de consumo, como é o caso do tabaco aquecido;
- A proibição de tabaco a partir de uma certa idade “deve que ser discutida”, segundo a especialista, que deixa uma nota de esperança: cada vez mais, em Portugal, temos mais ensaios clínicos e isso vai permitir-nos ter mais sobrevivência”.
- A Pulmonale tem também um projeto-piloto de rastreio de cancro do pulmão, sendo que a sobrevivência aos 5 anos de uma doença localizada é 8 vezes superior e permite mais qualidade de vida;
- A culpa associada à doença deve ser combatida. “Sabemos que o tabaco tem um impacto brutal no cancro do pulmão, mas temos muito não fumadores também. Não se deve associar o cancro do pulmão a uma culpa”, finaliza Fernanda Estevinho.
Saiba mais sobre o cancro do pulmão AQUI.
Melanoma
- O cancro de pele continua a aumentar em Portugal, apesar das campanhas de prevenção e do maior esclarecimento da população sobre os riscos a evitar;
- O melanoma é o cancro de pele menos frequente, mas é o que pode causar maior taxa de mortalidade (75% das mortes de cancro de pele);
- “A radiação UV é a principal causa para aparecimento de melanoma”, esclarece a diretora da Unidade de Dermatologia da Fundação Champalimaud, Daniela Cunha. Mas apesar de isso não ser um mito, também é verdade que o sol é “benéfico” para a nossa pele em algumas situações (produção de vitamina D) e tem, por exemplo, um efeito antidepressivo;
- A luz solar faz parte da nossa biologia e é importante para nós, mas tudo o que é em excesso faz mal, explica Daniela Cunha. “O que é prejudicial é o sol em excesso, o chamado escaldão”, é isso que traz danos às nossas células, assim como a exposição cumulativa também é prejudicial. “O bronzeado não é saudável”, reforça a especialista, é apenas uma reação da nossa pele à agressão provocada pelo sol;
1500
novos casos de melanoma são diagnosticados, anualmente, em Portugal

Daniela Cunha, diretora da Unidade de Dermatologia da Fundação Champalimaud
José Fernandes
- Se estivermos muito bronzeados não conseguimos produzir vitamina D, sendo esta indispensável para combater o aparecimento de outras doenças. “É preciso saber tirar partido do sol, sem que este nos danifique”, conclui a especialista, que deixa também alguns conselhos práticos para o Verão: escolher a hora certa para a exposição solar (a partir da 16h, embora haja dias em que a radiação a esta hora ainda é elevada); usar chapéu; óculos de sol; roupa que proteja (com mangas, por exemplo) e aplicar proteção solar ( fator 30 - no mínimo - é, em geral, o mais indicado para a pele dos portugueses);
- Sinais de alerta: se existir um padrão entre os sinais do corpo e há um que se nota claramente que é diferente, então esse é um sinal que merece análise; analisar os sinais segundo a regra ABCDE (Assimetria, Bordo, Cor, Diâmetro e Evolução do sinal);
- Um cancro da pele pode existir em qualquer sítio, quer na pele sã, quer num sinal que se modificou. “Este cancro é muito silencioso, mas ele está na nossa pele”, recorda Daniela Cunha.
Se quiser saber mais sobre este Vamos Falar?, pode rever a sessão na íntegra clicando AQUI.
02 julho 2024
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