Vacina contra o melanoma pode abrir caminho para outros tratamentos oncológicos
Steve Young, de 52 anos, foi uma das primeiras pessoas no mundo a ser vacinada contra o melanoma, o tipo de cancro da pele a maior taxa de mortalidade.
Esta vacina com a tecnologia de mRNA está na terceira fase de ensaios clínicos e usa a mesma tecnologia das principais vacinas contra a Covid-19. Ao contrário das doenças infecciosas, esta vacina não é usada prevenir ou atenuar sintomas, mas para ajudar no tratamento do melanoma de quem já foi diagnosticado com a doença.
"O que é feito é a extração de fragmentos do próprio tumor, são identificadas sequências que são designadas de neoantigenios - neo de novo, antigénio quer dizer que o nosso organismo vai reconhecer como estranho, de uma forma simples. São desenvolvidos, são amplificados e são injetados esses fragmentos muito pequeninos de proteínas na circulação e vão ser reconhecidos pelo nosso sistema imunitário como um alvo a abater", explica Daniela Cunha médica dermatologista e diretora da especialidade na Fundação Champalimaud.
A vacina pode ser aplicada em casos mais graves e pode abrir caminho para a aplicação desta tecnologia noutros tipos de cancro, uma dinâmica que se tem verificado nos últimos treze anos, em que o estudo do melanoma tem aberto caminho para várias terapias oncológicas.
"Há alguns anos atrás, tínhamos a terapêutica alvo que dirigia a mutações específicas encontradas no melanoma e que ainda hoje é utilizada. Desenvolvemos também a imunoterapia - os investigadores, a comunidade que investiga - que é, no fundo, estimular o nosso próprio sistema imunitário a reagir contra o melanoma. Temos outras terapêuticas, combinações e novas imunoterapias e a utilização de linfócitos, (células) que temos nós próprios no nosso corpo, e que podem ser extraídas e potenciadas."
Ainda que a evolução da tecnologia seja rápida a velocidade de metastização do melanoma é também acelerada e, por isso, como em todas as doenças oncológicas o diagnóstico precoce é essencial para o sucesso de qualquer tratamento, uma vez que quando detetado precocemente o melanoma é um tumor curável e - quando detetado mais tarde - apresenta muitos desafios, sendo que na maioria dos casos falamos no prolongamento da "sobrevida livre de doença". Conseguir um diagnóstico depende, segundo a médica dermatologista, "da comunidade médica, mas também é muito dependente da cada um de nós, de cada cidadão."
Incidência do melanoma
Por ano, o melanoma afeta mais de 130 mil pessoas em todo o mundo, apesar de ser o cancro de pele mais mortal, é também dos mais preveníveis, mas para isso é preciso mudar mentalidades - "há muito aquele conceito errado, quando se apanha sol fica-se bronzeado e fica-se com um ar saudável. Isto é completamente um paradoxo".
Em Portugal, o número de diagnósticos anuais de melanoma está a aumentar, são mais de 1500 por ano.
Evitar a exposição solar prolongada durante o meio dia e as três da tarde, utilizar proteção adequada e a não utilização de solários são algumas das medidas que os especialistas apontam como mais importantes para prevenir o melanoma.
Saiba mais AQUI sobre esta neoplasia maligna.
23 agosto 2024
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