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Cancro da cabeça e pescoço: mais de metade dos casos continuam a ser diagnosticados tarde

Em Portugal, todos os anos, milhares de pessoas recebem tarde demais o diagnóstico de cancro da cabeça e pescoço - mais de metade dos casos só são detetados em fases avançadas. A campanha internacional Make Sense regressa em setembro para lembrar que reconhecer os sintomas e agir cedo pode fazer toda a diferença.

A campanha Make Sense, promovida pela European Head and Neck Society (EHNS) e coordenada em Portugal pelo Grupo de Estudos de Cancro da Cabeça e Pescoço (GECCP), regressa em 2025 com a 13.ª edição, entre 15 e 20 de setembro. O objetivo mantém-se claro: aumentar o conhecimento sobre os sinais e sintomas, promover o diagnóstico precoce e reforçar a equidade no acesso aos cuidados de saúde.

Em Portugal, são diagnosticados anualmente entre 2500 e 3000 casos de cancro da cabeça e pescoço. Mais de metade surge já em fase avançada, o que compromete as hipóteses de cura e reduz a qualidade de vida dos doentes. Daí a mensagem central da campanha: sintomas que persistem por mais de três semanas exigem avaliação médica.

Sinais de alerta

Úlceras na boca que não cicatrizam, rouquidão persistente, dor de garganta, dificuldade em engolir, caroços no pescoço ou obstrução nasal unilateral são sinais a não ignorar. Quando detetado precocemente, este tipo de cancro apresenta taxas de cura entre 80% e 90%; em fases avançadas, esse valor desce para cerca de 50%.

Apesar de ser o sétimo cancro mais comum na Europa, continua a ser subdiagnosticado. Para inverter este cenário, a literacia em saúde e a sensibilização da população são vistas como fatores decisivos.

Prevenção acessível e informação para todos

Sob o mote “Equal Access, Equal Care: Uniting Europe Against Head and Neck Cancer”, a campanha irá sublinhar a importância da prevenção, alertando para os principais fatores de risco: consumo de tabaco e álcool e infeção por HPV (Papilomavírus Humano). Neste contexto, será dada especial atenção à vacinação contra o HPV, sobretudo entre os mais jovens, bem como à promoção da saúde oral e à redução de comportamentos de risco.

“A deteção precoce e o acesso atempado ao tratamento continuam a ser determinantes para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida. É essencial que a informação chegue a toda a população, independentemente da localização ou condição socioeconómica”, sublinha Ana Joaquim, presidente do GECCP.

Rastreios gratuitos e ações em todo o país

Este ano, a campanha terá uma presença alargada em várias regiões. Estão previstas sessões de rastreio gratuitas, com destaque para o IPO do Porto (16 de setembro) e o IPO de Lisboa. Em parceria com o projeto CASA – Centro de Apoio aos Sem Abrigo, vão realizar-se ações em Albufeira e Porto (17 de setembro) e em Coimbra (data a confirmar). A Comunidade Vida e Paz promoverá ainda rastreios nos polos de Chelas e Olaias (Lisboa).

Além disso, haverá sessões educativas em escolas, formações para profissionais de saúde focadas na deteção precoce e correta referenciação, e o 15.º Simpósio Nacional do Cancro da Cabeça e do Pescoço, a 20 de setembro, no IPO do Porto. Nesse mesmo dia, a equipa de andebol do FC Porto entrará em campo com camisolas alusivas à iniciativa.

“Temos hoje melhores ferramentas para diagnosticar e tratar, mas continuamos a falhar no tempo. Só um esforço coletivo entre profissionais, instituições e sociedade civil pode inverter esta tendência”, reforça Cláudia Vieira, oncologista e membro da direção do GECCP.

Antes mesmo da semana oficial, a mobilização começou no verão com a ação “Língua Para Fora”, lançada a 27 de julho, no Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço. O objetivo é sensibilizar os mais jovens para a importância de observar a cavidade oral e a língua como gesto simples de auto-rastreio.

Com um formato interativo, a campanha passou já por festivais como o Jardins do Marquês – Oeiras e o Sumol Summer Fest, e marcará presença no Caixa Alfama (26 e 27 de setembro). Experiências criativas, como o Espelho Selfie e o Mural Coletivo de Línguas, têm envolvido milhares de jovens, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Cirurgia Orofacial e do GECCP.

A Make Sense quer envolver toda a sociedade num esforço conjunto para salvar vidas, promovendo vigilância, prevenção e igualdade no acesso aos cuidados de saúde.

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