Num momento em que os casos de infeção humana por vírus Monkeypox têm aumentado em Portugal, o médico infecciologista Fernando Maltez esteve na antena da SIC a explicar que apesar de “maioria parte ou todos os casos até agora relatados implicarem relações sexuais”, há ainda “muitos aspetos intrigantes” sobre este surto.
O último balanço da Direção-geral da Saúde (DGS) dá conta de um total de 74 casos de Monkeypox em Portugal, sobretudo na região de Lisboa mas também no Norte e Algarve, o médico infecciologista Fernando Maltez reconhece que “há de facto neste surto, chamemos-lhe assim, muitos aspetos intrigantes”.
“Desde logo perceber como foi introduzido na Europa, onde está a fonte da infeção – o paciente zero. Depois perceber como é que são estas cadeias de transmissão porque embora se encontrem algumas ligações entre alguns doentes, nem toda a cadeia está perfeitamente clarificada. Depois juntaria a isto a própria apresentação clínica da doença. A maioria parte ou todos os casos até agora relatados implicaram relações sexuais e o facto de as lesões se localizarem numa grande proporção dos doentes em regiões ou perieanais ou genitais faz de facto suspeitar que possa haver aqui uma transmissão sexual”, disse na antena da SIC, sublinhando, porém, que “o contacto pele/pele e a proximidade corpo/corpo são suficientes para adquirir a infeção. Portanto, esta transmissão da infeção através da via sexual continua por explicar“.
Fernando Maltez salienta também que “a ideia inicial de que isto era uma doença confinada aos indivíduos do sexual masculino está-se a esbater”, dando o exemplo do primeiro caso confirmado no Reino Unido: uma mulher que veio da Nigéria.
Neste sentido reforçou a ideia de que “de momento é errado pensarmos que a transmissão é essencialmente sexual ou maioritariamente sexual, não está comprovado de uma forma clara“.
Certa é, diz, “a transmissão [através de] contacto com fluidos corporais do indivíduo infetado e é isso que devemos evitar ao máximo”. Pelo que há cuidados que adotamos com a pandemia da covid-19 e que devem ser mantidos no caso de contacto próximo com um doente.
Também os infetados “devem ficar confinados ao domicílio, terem os seus objetos para seu uso próprio, e quarto e casa de banho próprios”, aconselha o infecciologista, apontando para uma “durabilidade média [da infeção] entre duas a quatro semanas”, lembrando que “não há tratamentos específicos para o vírus Monkeypox”.
Sinais de alerta
Lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço devem ser sinais de alerta, avisa a DGS que aconselha quem tiver estes sintomas a procurar aconselhamento clínico e a, caso se dirija a uma unidade de saúde, cobrir as lesões cutâneas.
Além disso, e perante os sintomas referidos acima, deve ser evitado o “contacto físico direto com outras pessoas”, bem como a partilha de vestuário, toalhas, lençóis e objetos pessoais enquanto estiverem presentes as lesões cutâneas, em qualquer estadio, ou outros sintomas”.
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