Vida

Liu Xiaobo: um veterano da dissidêndia

O dissidente chinês Liu Xiaobo, galardoado hoje com o prémio Nobel da Paz, está preso há quase dois anos, pela terceira vez, por actividades consideradas subversivas.

Antigo professor universitário e crítico literário, Liu Xiaobo, de 54 anos, foi condenado em dezembro passado por um tribunal de Pequim a 11 anos de prisão, acusado de tentar "subverter o governo".



Foi a sua terceira detenção desde a sangrenta repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, em junho de 1989.



Liu Xiaobo foi detido pela última vez em dezembro de 2008, depois de ter promovido um abaixo-assinado a favor da introdução de reformas políticas na China, nomeadamente o fim do regime de partido único, a independência do poder judicial e a liberdade de associação.



O manifesto, subscrito entretanto por mais de dez mil pessoas, chama-se "Carta 08", uma alusão à famosa Carta 77 lançada por Vaclav Havel na antiga Checoslováquia socialista.



"Devemos tornar universal a liberdade de expressão e de imprensa, garantindo que os cidadãos possam ser informados e exercer os seus direitos de supervisão política (...) Devemos acabar com a prática de encarar as palavras como crimes", proclama a "Carta 08" .



Liu Xiaobo é doutorado em literatura chinesa.



Ensinou numa universidade em Pequim, mas foi banido do ensino oficial pelo seu envolvimento nas manifestações estudantis de 1989, consideradas pelo governo como "uma rebelião contra-revolucionária".



Depois da repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, esteve preso durante cerca de um ano e meio, até ao início de 1991.



Entre 1996 e 1999, foi de novo detido e internado num "campo de reeducação através do trabalho".



Estados Unidos e União Europeia pediram várias vezes a libertação de Liu Xiaobo.



Em dezembro passado, o porta-voz do departamento norte-americano de Estado disse que um julgamento de Liu Xiaobo "não é próprio de um grande país".



O governo chinês rejeitou as críticas ocidentais ao processo, considerando-as uma "ingerência grosseira nos assuntos internos da China".



A China é hoje uma das mais dinâmicas economias do mundo, mas no plano político, o "papel dirigente" do Partido Comunista continua a ser "um princípio cardinal".



"Este país nunca teve tantas liberdades individuais como agora, mas desafiar o poder do Partido, isso não é, de modo nenhum, permitido", comentou o ano passado em Pequim Sidney Rittenberg, o único cidadão norte-americano autorizado a filiar-se no PCC, na década de 1940.



"Dissidentes são os que insistem em desafiar publicamente o poder do Partido Comunista. Para eles não há justiça", acrescentou.







(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)



Lusa