Salman Abedi, britânico de 22 anos de origem líbia, era conhecido dos serviços de segurança britânicos. Tinha nascido em Manchester onde existe uma importante comunidade líbia.
O pai, Ramadan Abedi, pertencia o Grupo Islâmico Combatente Líbio (GICL), ativo dos anos 1990 e hostil ao regime de Muammar Kadhafi. Perseguido, Ramadan refugiou-se no Reino Unido, primeiro em Londres, depois em Manchester, onde a família se instalou num subúrbio modesto da terceira maior cidade britânica, Fallowfield. Os Abedi frequentavam a mesquita local de Didsbury.
Em 2014, Salman iniciou os estudos de comércio e gestão na universidade de Salford, mas abandonou o curso um ano mais tarde. "Ele era reservado", disse à AFP um porta-voz da comunidade líbia em Manchester, Mohamed Fadil. "As pessoas sabiam que ele tinha problemas de comportamento, não era respeitador nem educado, era introvertido e estranho. Dizia-se na comunidade que bebia álcool e fumava erva", garantiu.
Amigo esfaqueado em Manchester
Segundo disse à AFP um amigo da família na Líbia, que quis manter o anonimato, um amigo de Salman Abedi foi esfaqueado por dois jovens britânicos em maio de 2016 em Manchester. Desde então, o homem de 22 anos que se fez explodir à saída de um concerto pop, ficou "sedento de vingança", disse.
"Esse incidente suscitou a cólera dos jovens líbio em Manchester e Salman expressou claramente o seu desejo de vingança", contou. "
De acordo com os media britânicos, o amigo esfaqueado, Abdul Wahab Hafidah, tinha sido perseguido e depois esfaqueado por um grupo de jovens. O processo ainda decorre na justiça britânica.
Crianças muçulmanas a morrer
Outra razão para o atentado na Manchester Arena foi avançada por uma irmã de Salman, Jomana, ao Wall Street Journal. "Ele viu crianças - crianças muçulmanas - a morrer no mundo e quis vingá-las. Ele viu as bombas que a América lançou sobre as crianças na Síria e quis vingá-las.
Quatro dias antes do atentando, Salman estava na Líbia e, segundo o amigo, "o pai queria que ele ficasse na Líbia, mas Salman insistiu em regressar a Manchester".
Ramadan Abedi tinha regressado ao seu país em 2011 para combater ao lado dos rebeldes contra o ditador Kadhafi, que acabou por ser deposto. Salman terá estado ao lado do pai.
O seu irmão mais novo Hachem, detido terça-feira na Líbia e interrogado pelos serviços segurança líbios, afirmou que Salman "pertencia ao grupo Daesh" e que ele próprio estava ao corrente do "projeto" do irmão.
O pai Ramadan está também a ser interrogado pelos serviços de segurança líbios. Antes, em declarações por telefone para a agência Associated Press (AP) a partir de Tripoli tinha afirmado que o filho é inocente e confirmado que um outro filho tinha sido detido pela polícia britânica depois do ataque de segunda-feira.
"Nós não acreditamos em matar inocentes. Nós não somos assim", garantiu Ramadan .
Após a queda do regime de Kadhafi, Ramadan ocupou um lugar de responsabilidade na direção da polícia de Tripoli, disse à AFP Ahmed Ben Salem, porta-voz dos serviços segurança líbios.
"O inquérito está em curso. Ele continua a ser interrogado. Não posso dar mais pormenores", declarou.
O Grupo Islâmico Combatente Líbio (GICL) a que o pai Ramadan pertenceu foi oficialmente criado em 1995 para derrubar o regime de Kadhafi. Quando tal aconteceu, em 2011, os membros do grupo foram perseguidos. Desde então, o GICL mantém relações ambíguas com a Al-Qaeda.