Crise no CDS-PP

Pires de Lima diz que adiamento do congresso do CDS é um "ato de incoerência"

Francisco Rodrigues dos Santos solicitou a convocação de uma reunião urgente do Conselho Nacional para "deliberar sobre a realização" do congresso, marcado para o final de novembro.

Pires de Lima diz que adiamento do congresso do CDS é um "ato de incoerência"
ANTONIO COTRIM

O antigo dirigente do CDS António Pires de Lima afirmou esta sexta-feira à Lusa que o adiamento do congresso do partido é "sobretudo um ato de incoerência" e espera que haja "algum conselheiro com lucidez de Pirro".

O antigo ministro salientou que "este congresso já estava marcado e as datas que foram escolhidas dentro de quatro semanas são perfeitamente compatíveis com a marcação de eleições, venha a acontecer essa marcação em janeiro ou em fevereiro".

Por isso, "a possibilidade de um adiamento do congresso é sobretudo um ato de incoerência de quem já tinha marcado este congresso e de quem apela sistematicamente à liberdade de escolha dos cidadãos, na educação, à liberdade na saúde, à liberdade na segurança social, para depois, quando é o seu poder e aquilo que o seu poder representa que pode estar em causa no partido, sonegar a liberdade de escolha aos militantes do CDS a liberdade de poderem decidir com que presidente e com que direção querem ir a eleições", prosseguiu António Pires de Lima.

"Presidente do partido arrisca-se a ir até a uma grande derrota final"

"A segunda [nota] que eu queria deixar é de que vitoriazinha em vitoriazinha o presidente do partido arrisca-se a ir até a uma grande derrota final porque só um congresso podia realmente, de uma forma democrática, transparente, clarificar a situação do partido e unir o partido em função do líder que viesse a ser ganhador", salientou.

"Só o medo e a falta de transparência podem explicar este desejo de adiamento e eu espero que no final do Conselho Nacional do dia de hoje se, eventualmente, o dr. Francisco Rodrigues dos Santos acumular mais uma vitória no Conselho Nacional que provoque o adiamento, haja junto de Francisco Rodrigues dos Santos algum conselheiro com lucidez de Pirro que possa dizer: 'Francisco, mais uma vitória destas e estaremos perdidos, o CDS estará perdido'", sublinhou Pires de Lima.

"Retira legitimidade ao líder atual"

Para o antigo dirigente centrista, o adiantamento do congresso e a incapacidade de se clarificar aquilo que são as diferenças de projeto no congresso antes das próximas eleições legislativas dá um péssimo exemplo ao país de falta de democracia no CDS e retira legitimidade ao líder atual".

Por isso, "aquilo que desejaria é que Francisco Rodrigues dos Santos, à semelhança daquilo que aconteceu com Paulo Portas em 2002, numa circunstância idêntica quando o parlamento também foi dissolvido, não tivesse medo, não se refugiasse em comportamentos não democráticos, que respeitasse o congresso, defrontasse Nuno Melo perante os militantes.

E então, "se ganhar, será o líder" por legitimidade do partido, e "se perder, perderá de cabeça erguida, cumprindo aquilo que é a tradição democrática do CDS", rematou António Pires de Lima.

Na quinta-feira, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, solicitou a convocação de uma reunião urgente do Conselho Nacional, órgão máximo entre congressos, para "deliberar sobre a realização" do congresso eletivo do partido, marcado para o final de novembro.

Líder do CDS quer adiar as eleições diretas do partido para preparar legislativas

O Presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, quer adiar as eleições diretas do partido para preparar as eleições legislativas. Nuno Melo fala em tentativa de golpe de estado institucional. A decisão é tomada esta sexta-feira, no Conselho Nacional extraordinário. Entretanto, a comissão política do partido esteve reunida.

Com eleições legislativas à vista, os partidos tentam arrumar a casa a tempo de ir a votos. No CDS, de um lado, fala-se em adiar o congresso marcado para 27 e 28 de novembro. Do outro, fala-se em medo e golpe de estado institucional.

"O CDS é um partido estruturante e fundador da democracia e vive hoje o primeiro ato de uma tentativa de golpe de estado institucional que eu quero denunciar e repudiar vivamente", afirmou Nuno Melo, candidato à liderança do CDS-PP.

O eurodeputado criticou também a convocatória, de um dia para o outro, do Conselho Nacional extraordinário marcado de urgência para sexta-feira com o intuito de deliberar "sobre a realização do XXIX Congresso Nacional" e defendeu que teria de ser "convocado com pelo menos 48 horas de antecedência".

Já o vice-presidente do CDS, Pedro Melo, diz que a proposta de adiamento do Congresso, sugerida por Francisco Rodrigues dos Santos, não é inédita e aconteceu por duas vezes – em 2003 e 2013.

A decisão cabe ao Conselho Nacional, que se reúne esta sexta-feira à noite de forma extraordinária.

Esta sexta-feira, o líder do CDS vai reunir com Rui Rio, do PSD, em Aveiro, para discutir a atual situação política, depois do chumbo do Orçamento do Estado.

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