David Bowie 1947-2016

Segredos de David Bowie revelados no novo centro em Londres

Quem era o verdadeiro Major Tom? Quais eram as músicas favoritas de Bowie e qual era o seu projeto secreto e inacabado? As respostas a estas perguntas estão no arquivo a partir de agora aberto ao público.

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"Ground Control to Major Tom" temos novidades! Durante décadas, David Bowie cantou sobre a viagem de um explorador espacial chamado Major Tom. Uma lenda por mérito próprio, protagonista de Space Oddity e de Ashes to Ashes, a sua identidade completa foi finalmente revelada, ao fim de 56 anos e quase dez anos após a morte do cantor.

Foi durante uma consulta aos arquivos do cantor que foi descoberto um manuscrito com esta informação, noticia o Mirror: em duas folhas A4, escritas à mão, está a sinopse de um guião sobre o "ás da aviação britânico... Major Tom Brough".

O guião seria para um filme intitulado Young Americans, que contaria a história das tentativas do piloto para aterrar na Lua. Apesar do título, não tinha ligação ao álbum homónimo de 1975 e nunca chegou a ser realizado.

Bowie parece fazer referência à sua famosa letra de Space Oddity, de 1969, a certa altura, ao escrever: "A equipa de controlo em Terra está tensa e alerta enquanto Tom desce a sua escada".

Em Space Oddity, a viagem espacial de Major Tom fracassa, terminando com ele a vaguear pelo espaço depois de perder o contacto com a equipa em Terra. Bowie canta no final: "Aqui estou eu a flutuar na minha lata, muito acima da Lua. O planeta Terra é azul, e não há nada que eu possa fazer" (“Here am I floating ‘round my tin can, far above the moon. Planet Earth is blue, and there’s nothing I can do”).

A personagem reaparece em 1980, em Ashes to Ashes, em que o Major Tom sucumbiu ao vício da droga e está à deriva no espaço. Diz-se que Bowie se inspirou nas suas próprias experiências com drogas na década de 1970.

Em 2015, Major Tom aparece pela última vez no vídeo Blackstar, como um cadáver com um fato de astronauta num planeta distante.

O documento agora revelado estará disponível ao público a partir de 13 de setembro, com a abertura oficial do David Bowie Centre.

Uma casa para Bowie e as suas personagens

O novo centro, localizado no V&A East Storehouse no leste de Londres., guarda cerca de 90 mil objetos do espólio de Bowie. O museu Victoria&Albert (V&A), responsável pela exposição de sucesso "David Bowie Is" em 2013 (que pode ser agora visitada online), adquiriu o arquivo completo e criou o David Bowie Centre for the Study of Performing Arts.

Entre instrumentos, letras de músicas manuscritas e projetos inacabados, a exposição revela a criatividade multifacetada de Bowie e a sua influência duradoura na cultura popular. Os visitantes podem consultar os objetos mediante marcação.

"O David Bowie Centre é a nova casa do arquivo de David Bowie, que conta com mais de 90 mil objetos e material de arquivo que Bowie colecionou e guardou ao longo da sua vida. Temos instrumentos, figurinos, esboços, letras de música, cadernos de apontamentos. E aqui no centro, guardamo-los e facilitamos marcações individuais para objetos e material de arquivo que os visitantes gostariam de ver. E também temos exposições que mostram a evolução de Bowie como um indivíduo criativo multidimensional e mostram a sua influência duradoura na cultura popular", explicou Madeleine Haddon, curadora do centro.

Bowie morreu em 2016, vítima de cancro, aos 69 anos. Ao longo de cinco décadas, a sua obra criativa cruzou música, teatro, cinema e design.

A curadora sublinha que Bowie era conhecido pela atenção meticulosa aos detalhes e pela capacidade de inovar em diferentes áreas. As peças em exposição estão organizadas em nove temas, desde o fascínio de Bowie pelo futurismo e pela ficção científica até às colaborações artísticas.

"Embora Bowie seja muito conhecido como músico, era também ator, escritor, designer, um verdadeiro polímata nesse sentido. Estamos a analisar a colaboração e as influências no seu trabalho, analisando o futurismo e o seu fascínio pela ficção científica e pela tecnologia. Temos também exposições temáticas que mudam aproximadamente de seis em seis meses para apresentar novos objetos do arquivo", disse Madeleine Haddon.

Projetos inacabados e segredos revelados

Entre os materiais descobertos estão ideias para um musical inacabado, The Spectator, inspirado na Londres do século XVIII. As anotações, encontradas no escritório de Bowie em Nova Iorque após a sua morte, mencionam figuras históricas como o ladrão Jack Sheppard e o pintor William Hogarth.

"The Spectator era um musical em que Bowie estava a trabalhar no final da sua vida. Era sobre a Londres do século XVIII, seguindo várias personagens reais dessa sociedade e desse cenário. Interessava-se obviamente pela cena cultural, pela sociedade da época, pela política. Sabemos que ele tinha feito anotações em post-its e ideias para um guião. Mas não foi muito mais longe do que isso e só podemos especular sobre a ideia final que ele tinha para esse projeto", contou Harriet Reed, curadora de performance contemporânea.

A especialista salienta que ainda há muito por saber sobre este projeto inédito e lembra o musical Lazarus, que estreou em Nova Iorque e foi a sua última aparição pública.

O arquivo inclui cerca de 70 mil fotografias, 400 figurinos, 150 instrumentos e diversos artigos pessoais. As notas e objetos revelam o interesse do artista pela cultura, investigação e diferentes formas de expressão.

"É um olhar realmente fascinante sobre a forma como Bowie trabalhou como artista, mas também como ser humano, interessado e curioso sobre o mundo. Era incrivelmente dedicado e consumia diferentes áreas da cultura, seja cultura popular, programas de TV, música, design, arte, peças de teatro, performance. Tudo isto foi absorvido e utilizado. Ele esteve realmente envolvido em todos os aspetos da produção, desde a conceção das capas dos álbuns até à escrita dos guiões. Há tantas ideias que nem sequer chegaram a concretizar-se. Mas sabemos que era incansavelmente criativo e que pode ser uma inspiração para qualquer pessoa, concluiu Harriet Reed.
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